Após o Horizonte
Capítulo VII - Paixão
Assim que o dia clareou, acordei um pouco confusa no meu 14° dia de férias, tateando a cama a procura da bela, macia e quente aparição da noite anterior... e obviamente ela não estava lá. Demorou um pouco para minha cabeça se localizar, parecia que eu tinha acordado de um sonho. Um longo, inexplicável e delicioso sonho... mas eu estava nua, e nunca durmo sem ao menos uma camisola.
Eu havia sonhado? Brigit não havia estado lá? Ela não tinha me mostrado um monte de coisas? Neste instante tive uma sensação estranha... eu sabia que tinha visto muitas coisas, mas não me lembrava de quase nada, só lembrava das coisas que ela falou... Isis, Afrodite, Amaterasu, Freyja... ela era várias deusas antigas... mas foi tudo um sonho? Será que estou ficando lou...
- Dormiu bem, Alice? - foi o que ouvi, ao mesmo tempo em que gritei de susto.
- Vo... cê... você... quando vai parar de aparecer assim? - reclamei ao mesmo tempo em que sentava na cama com o coração acelerado e a via se aproximar.
- Perdoe-me, mas o dia está tão bonito que decidi ficar lá fora... e agora já estou de volta - foi a resposta com um sorriso, enquanto se sentava na cama, usando o mesmo vestido de alça de sempre.
- Como vou explicar uma ruiva que entra e sai do meu chalé sem passar pela recepção? - perguntei, ainda brava pelo susto.
- Fique tranquila, só você tem o privilégio de me ver - foi a resposta da forma mais natural possível.
- Privilégio... ser ignorada, maltratada, me arrebentar, quase ser morta, achar que enlouqueci, ter uma obsessão doentia por você... se esta lista inteira é um "Privilégio", imagino o que você considera um aborrecimento - foi minha resposta extremamente sincera, pois acredito que havia cansado da sua arrogância.
Talvez Brigit não esperava ser tratada assim... ela silenciou e pareceu refletir por quase um minuto, para só então responder enquanto se levantava da cama:
- Tem razão, como sempre meu povo só traz o mal para vocês... você só queria descansar e por minha causa quase se afogou, depois eu quase te matei, e após tudo isso você passou vários dias com uma dor terrível. Eu peço desculpas, irei embora e não retornarei mais.
- Não, espera! Não foi isso que eu quis dizer - quase gritei, enquanto me levantava e a abraçava - Falei sem pensar, não quero que você vá.
- E como sempre, os humanos ignoram nossas falhas e imploram pela nossa permanência... este comportamento é previsível e se repete há milênios, sabia?
Esta foi a gota... todo o incômodo com a arrogância dela havia atingido seu ápice agora. Eu soltei o abraço, virei meu braço para a direita e lhe desferi uma bofetada com toda força. Ela parecia não acreditar no que fiz e cambaleou um passo para trás com a surpresa, ao mesmo tempo em que colocava a mão no rosto. Já eu... bom... não sou uma pessoa tranquila quando estou com raiva.
- QUEM VOCÊ PENSA QUE É? SE REALMENTE FOR VERDADE QUE NÃO É HUMANA E ESTÁ AQUI HÁ TANTO TEMPO, COMO NÃO CONSEGUIU APRENDER ALGO TÃO ELEMENTAL?
- A... prender o que? - perguntou ela baixinho, ainda com a mão no rosto.
- VOCÊ NÃO RESPEITA OS SENTIMENTOS DE QUEM GOSTA DE VOCÊ. VOCÊ DESPREZA, IGNORA E DESDENHA DE QUEM GOSTA DE VOCÊ. ISSO NÃO É ALGO QUE ALGUÉM "SUPERIOR" DEVERIA FAZER - continuava gritando, sem nem saber porque estava tão alterada.
Acredito que a fiz refletir, pois ela me olhava de uma forma engraçada... mas no fim, nunca poderia esperar a resposta que veio na sequência:
- Tem razão Alice, mas considerando que tudo isso que você disse, é exatamente o seu comportamento com todas que gostaram de você, não entendi o motivo de tanta raiva. Eu apenas te tratei de forma similar a como você trata as outras pessoas.
Essa resposta, associada a calma em sua voz foi como um murro direto no estômago. Sim, eu era uma pessoa horrível com quem gostava de mim, como poderia esperar outro tratamento? Um pouco desorientada virei as costas para ela, caminhei até a cama e deitei-me, abraçando um travesseiro. E nesta posição, algumas lágrimas começaram a brotar.
Mas antes que a primeira lágrima caísse na cama, senti o corpo de Brigit me abraçando. E como pude notar sua pele delicada e quente por meu corpo todo, ela também estava nua. Na realidade, havia uma luta interna na minha cabeça para sair daquele quarto, correndo e gritando, mas teimei e permaneci, mesmo assustada.
- Não foi minha intenção lhe ofender, Alice... por favor, me perdoe novamente - sussurrou ela quase no meu ouvido, o que fez eu me arrepiar toda.
- Desde quando você se importa? Até ontem parecia um iceberg, e hoje... está falando macio, me chama de Alice, me abraça... qual é o seu problema? - questionei, sem admitir o quanto estava adorando seu abraço.
- Meu povo tem conexão com todos os tipos de energia, inclusive a emocional e isso me torna empata em relação a quem está próximo. Eu estou refletindo seus sentimentos, que está mudando de alguém frio e sem consideração para alguém que está sofrendo com emoções intensas e desconhecidas.
- O que você quer dizer, sua... sua... - tentei argumentar, mas me calei e simplesmente virei para ela.
- Quero dizer que você está se apaixonando por mim... e isso é extremamente satisfatório. Você não imagina como é delicioso sentir suas emoções reprimidas aflorando - respondeu ela, sorrindo e alisando meu rosto.
- Reprimida é seu rabo, sua arrogante... eu devia te bater de novo - balbuciava, sem saber o que falar.
- Mas não vai... na realidade, você vai me beijar, iremos nos tocar e ficaremos fazendo isso por horas.
Após essas últimas palavras, me rendi... segurei a cabeça desta linda e gostosa arrogante e a puxei com força em minha direção... os lábios dela eram meu único desejo naquele momento, e o prazer que senti quando seu corpo começou a emanar calor, era algo indescritível.
Três dias depois...
Havia acabado de acordar no meu 17° dia de férias... incrível como não conseguia esquecer desta maldita contagem regressiva em direção ao 20° dia.
Tirando este detalhe, posso dizer que nunca, nunca, nunca em toda minha vida estive tão feliz. Talvez ficar três dias enfiada no quarto, transando com a Brigit quase o tempo todo, só saindo da cama para comer algo e ir no banheiro (duas coisas que ela não fazia), era realmente o que eu precisava fazer nestas férias. Mas mesmo meu corpo estando animado e sedento pelo calor dela, o cansaço começou a me dominar, fora um detalhe que começou como um pequeno incômodo, mas que agora estava piorando rápido.
- Alice? Está tudo bem? - perguntou ela delicadamente. Outro item que estava me deixando feliz era notar que a cada dia, Brigit me tratava melhor, o que segundo ela, era uma simples consequência de meus próprios sentimentos. E isso retornava ao incômodo anterior.
- Sim, só estou cansada, muito cansada na realidade - respondi, parando de abraça-la.
- Só isso? - disse ela, colocando o braço em cima de mim.
- Lá vem você de novo... quer me deixar animada para continuarmos? - perguntei com incredulidade.
- Mas é claro, agora fique quieta um pouco - disse ela, começando a esquentar. E o ritual se repetiu, meu corpo formigou, não pude me mexer e alguns minutos depois ela parou e voltei ao normal. E o cansaço desapareceu como se nunca estivesse presente.
- Pronto Alice... agora se quiser, você pode me tocar de novo, de todas as formas e o dia inteiro... você ainda deseja meu corpo, não é verdade? - sussurrou ela de forma manhosa.
Eu odeio admitir, mas a voz dela, apenas a voz, fazia meu coração acelerar, as pernas tremerem e o pior de tudo, me deixava extremamente excitada. Mas neste exato instante, me segurei com todas as minhas forças e falei o que queria falar já há alguns dias.
- Sim... eu desejo muito seu corpo... mas... eu... eu...
- O que foi Alice? Seu corpo me diz que você deseja o meu... ou vai negar e precisarei comprovar isso? - disse ela com um sorriso malicioso enquanto aproxinava sua mão.
- Tá, tem razão... mas espere um minuto, por favor - pedi, afastando a mão dela. Se fosse tocada por um segundo, eu não conseguiria falar e nem pensar em mais nada - Eu preciso perguntar uma coisa, por favor... e depois, eu serei toda sua, o dia todo... por favor.
- Tudo bem Alice. O que você deseja saber? - perguntou ela, um pouco antes de começar a dar mordidinhas no dedo indicador que eu tinha acabado de afastar do meu corpo. Claro que esta cena quase me fez desistir de falar qualquer coisa... eu só pensava em beijos, amassos e no calor dela o tempo todo, mas agora teria que resistir, por mais difícil que fosse.
- Quando você apareceu aqui, disse que se eu quisesse, me contaria a verdade sobre o seu povo, sobre quem você é de verdade... e eu preciso saber... eu... eu confesso meus sentimentos por você... eu nunca senti nada igual... eu preciso saber quem ou o que é você, por favor.
Brigit olhou para mim com um sorriso... diferente... e após alguns segundos, comentou:
- Claro Alice, você tem todo o direito de saber, vou te contar tudo... mas depois, quero morder muitas coisas, não apenas meu dedo.
- S-sim... - respondi, me segurando mais do que nunca... ela era irresistível, sua voz, seu corpo... mas eu precisava saber quem era esta mulher, não, esta coisa pela qual estava loucamente apaixonada.
- A história é muito longa, mas vou tentar resumir ao máximo... tudo começou...
Sim, finalmente eu saberia de tudo e poderia viver plenamente esta loucura que se apossou do meu coração... ou não.
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