Prezados,
E com este capítulo 05 chegamos exatamente na metade da história da Auditora que só trabalha e da mulher misteriosa encontrada na praia.
Anteriormente, vimos que Alice tem uma experiência muito estranha por se lembrar de ter se machucado e ao acordar, não estar sentindo nada. E também vimos que um simples beijo se encaminhou para uma tragédia sem explicação.
A partir de segunda que vem, todas as respostas virão... Quem é e quem foi Brigit, o relacionamento que nascerá dessa revelação, a verdadeira origem da ruiva, uma mudança brusca de status e uma decisão que talvez mude a vida de ambas.
Não perca a partir da semana que vem, o "Capítulo VI - Deusa" e os seguintes até sua conclusão no "Capítulo X".
Espero que estejam curtindo a minha primeira tentativa de caminhar pela Literatura Fantástica, eu sinceramente estou. Acho muito legal todas as "teorias" que recebo sobre os acontecimentos... Cada leitor imagina um cenário diferente que poderia encaminhar a história para algo novo... Acho muito legal incitar a criatividade das pessoas.
Abs
Daniel
Após o Horizonte
Capítulo V - Fadiga
- Aqui! Aqui! Ela está aqui! Achei!
- Graças a Deus!
- Moça, moça... acorde! Por favor! Moça? Ela não responde.
- Mas será que está bem?
- Parece que está viva... com a mesma roupa de ontem e não está ferida.
- O que a gente faz?
- Chamamos a polícia? Uma ambulância?
- Peraí, ela está mexendo os olhos, está acordando!
- Moça?
Ouvi cada frase que eles falaram... a princípio, parecia longe, mas dava para ouvir perfeitamente... eram três vozes, duas conhecidas... o taxista e o rapaz do restaurante... e uma terceira desconhecida, a que disse ter me achado... e mesmo distantes, ouvir estas vozes me fizeram começar a voltar, só não sabia de onde...
- On... de... es... tou? - balbuciei sem conseguir manter os olhos abertos. Ao notar isso, alguém abriu um guarda-sol e protegeu meu rosto, dizendo:
- Pronto, moça! Pode abrir os olhos.
- Obrigada... o que houve? - perguntei, para ouvir o taxista:
- Você que precisa explicar, garota... voltei ontem as 18:00 hs e te esperei até as 20:00 hs, quando achei que você tinha ido embora de outra forma. Aí hoje de manhã fui perguntar no hotel se iria passear de novo e falaram que você não havia voltado. Fiquei preocupado e vim aqui, falei com o rapaz que te serviu o almoço, que se lembrava que você foi embora logo após comer.
- Sim... e depois... vim andando - respondi, sem lembrar direito de nada.
- Então, o rapaz do restaurante não sabia, mas este outro aqui viu você vindo pra cá... ele me ouviu perguntando e se ofereceu para vir te procurar, junto conosco. O que houve?
- Não... sei - foi minha resposta, enquanto tentava me lembrar - Espere... eu... conheci uma amiga... e vim passear... com ela - Esta foi minha primeira lembrança - Conheci ela... em um banco de concreto há uns... vinte minutos... do restaurante... e vim com ela até aqui... cadê ela? O nome dela... é Brigit... pele clara, ruiva...
Podia ver os três se entreolhando nervosamente, mas não responderam.
- Cadê... minha amiga? - insisti.
Nisso, o rapaz que havia me encontrado, claramente alguém que morava na região, se ajoelhou ao meu lado e disse de forma pausada e um pouco assustada:
- Moça, eu te vi duas vezes ontem e nas duas... você estava sozinha.
- Claro... você me viu... antes de eu conhecer ela - respondi.
- Olha, eu vinha nessa direção e passei por este banco que você disse... eu não esqueci seu rosto pois achei seu comportamento muito estranho... você estava sentada e olhando fixamente para o lado e parecia... que falava sozinha - disse ainda assustado. Achei estranho, pois não fiquei no banco nem um segundo sem a Brigit, mas ele podia não ter reparado nela.
- E qual foi... a segunda vez?
- Quando voltava, cruzei com você, que vinha pra cá... passei do seu lado e seu olhar estava estranho... mas posso jurar que você estava... sozinha - disse ele, se levantando em seguida.
Será que este sujeito era tão desligado que não havia notado uma ruiva branquela bem na minha frente? Não havia outra explicação, mas não queria discutir, então só restava concordar.
- Tá bom, acho que estou confusa... eu estava sozinha, mas agora preciso... voltar para o hotel - falei, aguardando ajuda para se levantar. E somente quando o taxista estendeu o braço para me ajudar que tentei me mexer, apenas para dar um grito bem alto.
- O que foi moça? - perguntou ele assustado.
- Dói demais... ao tentar mexer o braço... uma pontada fortíssima.
E não era só o braço, qualquer movimento, de qualquer parte do meu corpo, só tinha como resultado, uma dor violentíssima. E por mais que tentassem me ajudar, eu não consegui ficar de pé... na realidade, nem sentar... parecia o primeiro dia de academia, onde dói o corpo todo... exponenciado umas cinquenta vezes.
Que maravilha... quarto dia de férias... e estava estatelada na areia, sem conseguir me mexer... aguardando uma ambulância que me levaria para Recife. Mas ainda pensava na Brigit... por que ela tinha ido embora? Minha última lembrança sobre a noite passada era o momento em que comecei a beijá-la... e este cara ainda vem falar que eu estava sozinha, que sem noção!
E após várias horas, chegou um grupo de paramédicos, que me amarraram em uma maca, protegeram o pescoço e me carregaram para a ambulância... e após outras horas, dava entrada no hospital do Recife que meu convênio cobria.
O mais legal foi que após realizar uma bateria de exames, virei "atração turística" daqueles médicos... nenhum deles sabia o que eu tinha ou por que sentia tanta dor ao me mexer. Não havia qualquer fratura, os reflexos estavam em ordem, sinais vitais normais, exame de sangue perfeito... até uma tomografia foi feita e nada. Mas meu corpo todo continuava doendo pra cacete ao menor movimento...
Até que no terceiro dia internada sem qualquer mudança, um ortopedista que trabalhava com atletas teve a ideia de pedir um exame de sangue que mediria uma coisa chamada "Lactato", que confirmou o que ele havia deduzido.
- Senhorita Alice, seu nível de lactato está muito alto. Você está sofrendo de hiperlactetemia, uma condição associada a atletas de esportes extremos, mas sinceramente, não imagino que seja seu caso - disse, com o resultado nas mãos.
- O que significa isso? - perguntei assustada.
- Você está com fadiga muscular extrema, na verdade, no corpo todo e de uma forma que nunca vi... e... não acho que a senhorita correu uma maratona estes dias, não é?
- Não... - respondi sem entender.
- Vamos tratá-la, depois descobrimos a causa. Creio que você ficará boa em alguns dias - disse com um sorriso.
- Obrigada.
Bom, ele estava certo e no dia seguinte comecei a mexer os dedos... e mais três dias para mexer os braços e pernas com uma "dor tolerável". Ainda doía, mas estava diminuindo pouco a pouco.
E a cada dia que passava, lembrava mais um pouco de tudo que conversei com a Brigit... ela falava que eu corria perigo caso perdesse o controle... mas também lembrava do calor inexplicável de seu corpo... e do seu toque macio e sedoso... e que tinha me machucado nas pedras, mas não havia dor... e que ela me abraçava... e que a beijei... e que o cara disse que não viu ninguém... e que ela foi embora, me deixando sozinha e caída na areia... e eu a beijei... eu não estou louca, eu senti os lábios dela... não foi um sonho...
Resumindo tudo, voltei para o hotel no 13° dia das férias... ainda tinha uma semana de "descanso", mas havia uma série de restrições físicas, vários remédios para tomar, vários exames para fazer quando voltasse para casa... no fim, fiquei internada com uma baita dor no corpo todo, quase dez dias... isso sim que eram férias...
O ortopedista que descobriu o problema me visitava todo dia, sempre com perguntas diferentes, até que perdi a paciência e ele confessou. A princípio era impossível o meu nível de lactato ter subido tanto por simples atividade física, considerando que sou sedentária... eu teria desmaiado muito antes, então ele cogitava alguma síndrome rara e desconhecida (por isso o interesse).
Na verdade o espertinho queria a fama da descoberta e só me deixou em paz, quando peguei seu telefone e e-mail e prometi avisa-lo caso descobrisse algo.
Mas mesmo após todo o tratamento, ainda sentia dor ao caminhar, câimbras e tinha muita dificuldade para levantar da cama... minha nuca também doía bastante, mal conseguia virar a cabeça... mas no fim, o que mais doía era a impossibilidade de visitar alguma praia ou passear e sinceramente... eu queria voltar para Maracuípe... precisava ver a Brigit novamente para tentar entender tudo que aconteceu, principalmente o motivo dela ter me abandonado... estava fechada no quarto, enlouquecendo com meus pensamentos... não queria nem saber do trabalho ou do inevitável retorno para casa... cheguei a chorar por um tempo, sentindo-me completamente impotente.
Já haviam se passado algumas horas desde a minha chegada e na recepção, expliquei e pedi para me servirem as refeições no quarto, o que fizeram com muita boa vontade... meu jantar chegara há alguns minutos, mas comi pouco... continuava pensando naquela esquisita, maluca e linda ruivinha... só podia ser um castigo por já ter desprezado tanta gente... droga... ela me desprezou, ignorou, foi grossa... era arrogante... droga... mas me salvou quando caí no mar e era tão... quente... tão linda... eu lembro do toque dos seus lábios... droga, droga, droga!
Acabei por me sentar na cama, apoiando as costas na cabeceira... nesta posição, chorei por mais um tempo, até que as lágrimas secaram... mas o que podia fazer? Não conseguia parar de querer tocar nela, sentir seu calor... foi só um beijo... mas precisava de mais, muito mais... eu daria tudo para ouvir a voz dela... queria tanto ouvir aquela vo...
- Olá, criança.
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