Prezados,
Hoje começa a nossa mais nova história: "Após o horizonte"...
Com um capítulo toda segunda-feira, em uns três meses, terminamos...
Mas dessa vez, uma história um tanto diferente... Afinal, nossa protagonista Alice é uma Auditora que sempre trabalhou demais, e finalmente decidiu tirar férias, longas férias em Porto de Galinhas... E foi durante essas tão desejadas férias que um encontro inesperado com uma estrangeira acontece... Um encontro que vai ensinar a Alice que existe muito mais do que apenas o que conseguimos ver...
Tédio, drama, um relacionamento inusitado, confissões, auto conhecimento e uma boa pitada de sobrenatural... Espero que apreciem muito as conversas de Alice & Brigit, afinal, como diria nossa estranha amiga:
"...as pessoas só enxergam o que está na frente delas, apenas o óbvio, o simples e o racional. A visão de todos é limitada ao horizonte visível, igual quando você olha para o mar agora e não vê nada, mas existem muitas coisas além, coisas que ninguém nota ou percebe..."
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Após o Horizonte
Prólogo
As vezes sinto que o último mês da minha vida foi o melhor de todos, quase um sonho, pois finalmente iria tirar férias... esperei tanto, mas tanto por essa folga de trinta dias... meu trabalho como auditora é tão, tão extenuante, ainda mais por ser pessoa jurídica, adiei estas férias por cinco anos... entrei na empresa com vinte e seis, logo após terminar meu Mestrado em "Auditoria Financeira" na FGV e trabalhei, trabalhei e trabalhei... e quando finalmente convenci meu chefe de que precisava de férias, estes vinte dias em Porto de Galinhas viraram minha obsessão.
E a cada dia deste último mês, finalizei pendências, tive reuniões, entreguei relatórios, assinei dezenas de laudos e balanços... e deixei claro como água que não levaria o celular, não olharia emails, não ligaria nenhuma vez... férias absolutas, de uma forma que nunca tive.
Avisei mamãe e papai que não faria contato, coisa que eles não levaram muito na boa, mas respeitaram... avisei o síndico do meu prédio que o apartamento estaria fechado... não tenho nenhum bicho de estimação, mas deixei a samambaia com uma amiga... a última namorada terminou comigo há alguns meses (incrível como todas elas sempre querem mais atenção do que estou disposta a dar)... nenhum vínculo, pendência ou cobrança, apenas FÉRIAS!
E agora, neste exato instante... nem acredito que estou voando para Recife, de onde pegarei um ônibus para a vila de Porto de Galinhas... onde um Resort All Inclusive de frente para a praia me aguarda... onde não vou fazer nada exceto comer e dormir... mas é engraçado, não esqueço do comentário feito pelo rapaz que vendeu o pacote completo:
- Senhorita Alice, tenho certeza que você vai adorar a viagem - disse, sorrindo mais pelo valor da venda.
- Assim espero - respondi, guardando os papéis.
- Olha, pegue este guia sobre os melhores locais de balada, onde tem bastante gente solteira e bonita! - falou, me oferecendo um livrinho.
- Não, obrigada... se quisesse barulho, baladas ou paqueras, tiraria férias na Ibiza... quero sossego, não uma sarna para grudar no meu braço - respondi rindo, ao declinar o guiazinho.
- Entendi... bom, a última cliente que me falou algo parecido, voltou casada de lá - disse sorrindo.
- Bom pra ela! - foi minha resposta sem interesse.
- Meu pai sempre dizia que quando menos queremos ou esperamos uma coisa, aí sim é que a coisa acontece - completou ele, sorrindo de novo.
- Esperto seu pai, mas comigo não. Bom, muito obrigada por tudo - completei me levantando e saindo da loja em seguida.
Fico imaginando se o rapaz fez uma profecia, me jogou uma praga ou falou por falar... de qualquer forma desta vez ele está muito errado, pois não quero e não vou olhar, encontrar ou sair com ninguém, estas férias são meu momento sabático e vai saber se haverão outras... é meu momento, meu espaço e meu encontro de mim comigo mesma e não permitirei que ninguém interfira.
A única coisa que importa realmente é que voltarei outra pessoa... mais motivada, descansada e com ânimo para muitos outros anos de trabalho... se atingir este objetivo, já estarei plenamente satisfeita.
Porto de Galinhas, estou chegando... e que ninguém se atreva a entrar no meu caminho...
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Capítulo I
Tédio
Três dias... apenas três dias de férias e estou me sentindo entediada no Resort... devo ter algum problema, pois imaginei que iria ficar uns quinze dias apenas comendo e dormindo... afinal, meu chalé é espaçoso, tem ar condicionado, uma rede confortável e TV... na área comum quatro piscinas, quase um parque aquático, um restaurante e bar com comida e bebida o dia todo... é perfeito, é lindo, é maravilhoso... é... um tédio sem fim.
Não me conformo, parece que minha cabeça não desliga, como é possível? Fico pensando nos malditos relatórios, nas improdutivas reuniões e nos intermináveis balanços. Isso só pode ser mandinga do meu chefe, aquele miserável. Mas ele não vai ter o gosto de saber o quanto me lembrei do trabalho, vou dizer que me desliguei totalmente.
Creio que vou pedir algumas dicas na recepção... quem sabe uma leve mudança de ares não me faça bem? E foi com este pensamento otimista e carregando minha mochilinha com a carteira, protetor solar e uma toalha, que me dirigi ao rapaz atencioso e bem educado (pelo menos ele foi assim quando cheguei) que estava atrás daquele balcão, todo decorado com conchas, corais e estrelas do mar.
- Bom dia - disse com um sorriso.
- Bom dia, moça... em que posso ajudar? - foi a resposta com um sorriso maior ainda.
- Então, eu estou... entediada... já tomei meu café e não sei o que fazer... queria passear um pouco nos arredores, você tem alguma idéia de onde posso ir? - perguntei, confessando meu problema.
- Moça, existem dezenas de praias lindas, passeios de barco, jet sky, mergulho com snorkel, mergulho com cilindro, a vila de Porto de Galinhas... são tantas opções que fica difícil até saber por onde começar - respondeu com toda a sinceridade.
- Eu entendo... mas sei lá, diz qualquer um, qualquer lugar tranquilo onde posso ver algo legal ou apenas me desligar - insisti, esperando ouvir algo mais específico.
- Bom, se pode ser qualquer lugar, comece pela praia de Maracaípe, é tranquila, silenciosa e nos restaurantes, servem todo tipo de frutos do mar. Recomendo a lagosta na telha - disse, após pensar um pouco.
Otimista com aquela dica, agradeci com um sorriso:
- Pode ser, vou pegar um dos táxis que ficam aí na frente. Obrigada - agradeci e em seguida, caminhei alegremente até o ponto de táxi, com vários deles aguardando turistas como eu, que querem sair do paraíso (o Resort).
- Pode entrar moça - falou o motorista, já abrindo a porta, antes mesmo de eu chegar.
- Obrigada - foi minha resposta, enquanto me sentava no banco traseiro daquele carro, que nem fazia idéia qual era. Já o motorista era o típico morador de cidade com praia, de camiseta, tênis e a pele morena da exposição prolongada ao sol.
- Para onde? - perguntou ele, já ligando o carro.
- Praia de Maracaípe. É muito longe? - perguntei por simples curiosidade.
- Uma meia hora, deixa eu ver, agora são 10:35 hs, umas 11:00 hs a gente chega - foi a resposta, saindo com o carro.
Bom, não era tão longe... e no caminho podia olhar as pessoas e locais... pelo menos andar um pouco de carro era uma quebra na minha rotina (de férias). Rotina... falando assim, estou trabalhando ou com algum compromisso... qual o meu problema? Após tanta expectativa, estas férias não estavam sendo nada do que eu imaginava.
Um pouco melancólica, mantive meu silêncio durante o trajeto apesar do motorista tentar puxar assunto umas três vezes, recebendo apenas concordâncias vazias de minha parte. Na realidade, só respondi de verdade quando ele sem querer tocou em um nervo exposto:
- Como uma moça tão bonita vem pra cá sozinha?
- Bom, meus últimos namoros terminaram de forma um tanto... tumultuada... então não tinha ninguém para vir comigo - falei, sem nem saber o porquê.
- Entendi... você era muito ciumenta? - insistiu no assunto já que finalmente havia obtido uma resposta.
- Pelo contrário, todas queriam atenção todo dia, ligações, passeios todo sábado, jantares românticos... e meu trabalho me ocupava demais... e minha paciência terminava bem rápido - comentei, sem nem saber o motivo de estar abrindo minha vida para aquele desconhecido. Ele ficou quieto por uns minutos, talvez pensando no que dizer, afinal, a cliente não podia ser questionada.
- Bom, imagino que você ame seu trabalho, que ele é a coisa mais importante da sua vida e que está nos planos passar o resto da sua vida nele - disse finalmente para, sem querer, enfiar a faca no mesmo nervo exposto de agora a pouco.
- Claro que não, estava louca para sair de lá... eu não aguentava mais... mas estou sozinha e feliz aqui, não preciso de ninguém - respondi exaltada.
- Calma moça, então eu entendi errado... é que se o trabalho foi mais importante do que tantas pessoas em sua vida, achei que ele era seu maior objetivo... desculpe, não estava sendo irônico, eu realmente entendi isso - disse ele, se desculpando.
Neste momento fiquei muito constrangida... realmente me exaltei sem motivo por uma coisa boba.
- Desculpe, acho que estou estressada ainda... eu preciso me desligar desta droga de trabalho... desculpe mesmo - falei, tentando me acalmar.
- Tudo bem moça, a praia vai te fazer bem - respondeu ele, com um sorriso, para depois completar - Olha, vai ser meio difícil conseguir um táxi na praia muito tarde, não quer que eu vá te buscar umas 17:00 hs, 18:00 hs?
- Tá, pode ser... as 18:00 hs então - respondi, em um gesto para selar a paz. E depois disso, permanecemos em silêncio o resto do caminho.
Mas minha cabeça não parava de pensar sobre suas palavras... se abri mão de tantas pessoas, era pelo trabalho ser a coisa mais importante da minha vida? Eu realmente nunca tinha pensado por este lado... e um completo desconhecido havia jogado na minha cara uma verdade tão óbvia e cristalina, após ouvir apenas duas frases dap minha boca... que fiquei com raiva por nunca ter pensado ou percebido isso.
De qualquer forma, como estava vestindo um biquíni por baixo da blusa e short, e a praia estava próxima, logo, logo, meus problemas e conflitos iriam se dissolver na deliciosa água do mar, após um belo bronzeado em suas areias brancas e limpas... e quanto ao fato de estar sozinha... que se dane... podia estar sozinha, mas estava feliz também.
E quinze minutos depois, lá estávamos... praia de Maracaípe.
- Chegamos moça, até as 18:00 hs, então - disse ele com um sorriso.
- Até... e muito obrigada - respondi, descendo do carro. O táxi foi embora rapidamente e finalmente pude fitar aquele belo local.
Uma linda praia, com areia a se perder de vista para qualquer lado que se olhe... um mar calmo e um céu sem qualquer nuvem, completados por um horizonte infinito.
- Bom, vamos lá... sozinha e feliz... feliz e sozinha... - pensei com um grande e melancólico sorriso, enquanto tirava os sapatos, para dar meus primeiros passos naquela deliciosa areia quente. E foi andando, andando e andando, que eu finalmente me distraí... o cheiro da maresia, o sol escaldante, o vento fazendo meus cabelos voarem... finalmente eu estava esquecendo de todos os pensamentos ruins, exceto o pior de todos: “sozinha e feliz”.
Estava sozinha por opção... não dava atenção e nem bola para relacionamentos... uma noite, duas no máximo e a pessoa já me cansava pelo simples ato de mandar uma mensagem no celular... maldizia a carência delas quando questionavam o fato de não haver uma resposta ao previsível e maçante "bom dia".
Meu trabalho sempre vinha em primeiro lugar, mas... não o adorava e imaginava que iria sair um dia... então o trabalho seria apenas uma desculpa plausível? Realmente não queria ficar com ninguém? Na realidade a pergunta mais relevante era: “Por que estou pensando nisso justo agora?”
Que droga, havia desligado o assunto trabalho e ligado o assunto amor... mamãe vivia perguntando quando eu pararia de saltar de mão em mão... as vezes notava que ela sentia uma certa vergonha por ter uma filha que vivia tendo casinhos... várias vezes ela perguntava sobre uma pessoa apenas para ouvir como resposta que agora era outra... ainda bem que papai não se metia nisso e nem perguntava sobre netos... EU ter um filho? Mas nunca, de forma alguma, fora de cogitação... ele que convencesse meu irmão a lhe dar um neto.
De repente, notei que já estava bem longe do meu ponto original... enquanto estava imersa em pensamentos sobre solidão, família e relacionamentos, avancei um bom trecho da praia, em direção a uma parte mais afastada, sem restaurantes, cadeiras e muito menos, pessoas... exceto, pelo que estou vendo um pouco mais a frente, um simples banco de concreto, retangular e sem apoio para as costas... um banco comprido, mas que já tinha uma pessoa sentada... bom, imaginei que como estava ficando cansada, ali seria o local perfeito para descansar um pouco antes de voltar. E me encaminhei em sua direção, ainda tentando calar meus pensamentos.
Alguns minutos depois, me aproximei do banco e vi uma garota sentada na ponta oposta onde eu chegava. Considerando que caberiam umas quatro ou cinco pessoas entre as duas pontas, sentei sem me preocupar em incomoda-la, e realmente ela nem notou minha presença pois não se moveu um milímetro após minha chegada.
Sentei-me para descansar e sei lá por qual motivo, o fato daquela menina não reagir, não olhar pra mim, não se mexer e me ignorar por completo, incomodou-me um pouco. Ela estava imóvel, com a cabeça virada ligeiramente para a esquerda, como se admirasse algo incrivelmente fantástico ao invés de só ter o mar até onde a vista alcançava. Não sei se estava olhando para aquela garota esperando alguma reação ou simplesmente por não ter nada melhor para fazer, mas ao fazer isso pude notar alguns detalhes... curiosos.
A garota era obviamente jovem com talvez uns vinte e cinco, usava apenas um vestido verde claro de alça que ia até o joelho e estava descalça... até aí tudo bem, mas sua pele... era muito clara, não chegava a ser albina, mas era clara demais... o sol refletia de uma forma engraçada, com um brilho diferente... bom, talvez fosse um protetor solar bem forte que dava este efeito... e o longo cabelo era ruivo, mas de um vermelho que nunca vi, um vermelho tão vivo que parecia em chamas... eu nunca vi uma pele e um cabelo destas cores, seria ela uma Sueca? Holandesa? Finlandesa?
Apesar de meu olhar insistente, ela não me notou e isso estava me irritando mais a cada segundo. Será que a garota estava meditando de olhos fechados? Iria descobrir em seguida, pois me levantei, afastei-me um pouco do banco e passei na frente dela, olhando de canto.
Seus olhos estavam abertos, mas não houve qualquer reação, por menor que fosse, quando passei na sua frente... e agora meu incômodo havia atingido seu ápice. Ela estava bem? Estava drogada? Afinal, por que isso me incomodava?
Andei mais um minuto e ao me virar, ela estava no mesmo lugar, na mesma posição... quem era aquela mulher? O que ela estava admirando? Como podia não me notar?
E naquele momento algo tocou na minha cabeça, sem qualquer motivação real ou necessária... eu iria descobrir quem era aquela garota... e principalmente, faria ela me notar.
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kkkkkkk, odeia a carência alheia sobre ela, mas se encanta na primeira que não lhe da moral kkkkk. Mina do contra. gostei muito do inicio, principalmente da frase no inicio do texto.
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