terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Minha Linda Baterista - Capítulo IV – Obsessão

 Minha Linda Baterista - Capítulo IV – Obsessão



Ainda aguardava a explicação da putinha, mas desde já, me segurava para não esmurrar sua boca até quebrar aqueles dentes perfeitos. E a cada frase dela, ia ficando mais difícil conseguir isso...

– Então, "Doutora"... sabe o que mais me impressiona no seu comportamento? Durante a turnê da Lu, o maior sonho da vida dela, invés de se preocupar com ela, você prefere ficar trocando e-mails com a amante... e ainda para marcar um encontro após nossa volta... que vergonha.

– Chega! Não vou ouvir mais nenhum sermão seu... ou me diz o que quer me dizer, ou irei embora... e foda-se o resto – disse, com a certeza de que se ouvisse mais uma destas, perderia o controle. E acho que ela notou isso pelo meu tom de voz.

– Calma... tudo bem, não me importa... você escreveu seu e-mail e mandou pra Lu... quando chegou no celular, ela estava no banheiro e eu no camarim, aí gritei pra avisar que a bolsa vibrava... e ela pediu para ver se era você que estava ligando.
Mas que coincidência mais filha da puta... não acredito que foi algo tão idiota, realmente o destino me odeia... mas... uma coisa não batia.

– Mas como... você leu tudo e apagou tão rápido? Ou você levou o celular dela embora? – questionei indignada.

– Claro que não... eu li só o assunto e percebi que você mandou errado... aí imaginei que podia ter algo interessante e encaminhei pra mim rapidinho, depois apaguei de todos os locais... quando a Lu saiu, mostrei que não tinha nada e falei que só tinha chegado publicidade... pensei rápido, não? – se gabou ela, segurando a risada.

Mas que miserável filha da puta ao cubo... como alguém pode ter tanta sorte e pensar tão rápido? Ela tem uma cópia do e-mail... e eu já apaguei o original... e ela pode encaminhar pra Lucy editando algumas partes... e pode falar o que quiser... eu... não... acredito... de repente um desespero começou a preencher meu peito... essa putinha tinha nas mãos uma arma que podia destruir meu casamento com a Lucy... mas... não, de novo algo não batia...

– Não... você não pretende mostrar o e-mail pra Lucy, ou já teria mostrado ao invés de querer conversar comigo... afinal, o que você quer? – perguntei, rezando para estar certa.

– Nossa, você é mesmo inteligente... tem razão... pensei que se a Lu visse algo que a chateasse iria afetar o show, por isso apaguei... encaminhei mais de curiosidade, nunca imaginei que ia ter a confissão da traição... dei sorte, né? – perguntou cinicamente.

– O QUE VOCÊ QUER? – gritei, pois havia chegado no limite. Sim, era uma sortuda desgraçada... e eu, uma azarada do inferno.

– Tá bom... eu não quero mostrar este e-mail pra Lu, porque me preocupo com ela. Não quero ela chorando e deprimida porque foi traída, eu sei como é terrível a sensação... então se você fizer o que quero, além de não enviar, prometo que vou apagar ele... já disse, o que mais me importa é a felicidade da Lu... se você não liga pra isso, eu ligo e muito.

Agradeci a Deus o pensamento daquela menina, pois chegava a ser perigoso mostrar isso pra Lucy... estava mais tranquila agora, pois o pior não aconteceria e bastava então negociar com essa putinha... mas nem imagino o que ela podia querer, então insisti:

– Fico feliz com sua consideração para com ela... mas diga logo, o que você quer?

– Bom, falta um mês pra acabar a turnê... então o que quero é que você volte pra São Paulo e me deixe ficar este tempo sozinha com a Lu. Eu quero ela só pra mim durante o período dos nossos shows... esse será seu castigo. – disse, sem esconder um grande sorriso.

– Mas... mas... você está louca? Como vou explicar isso pra Lucy? Ela sabe que estou de férias... ah, entendi... você quer falar pra ela que fui encontrar com a Pri... que eu prefiro ficar com ela, não é? Sua... desgraçada – retruquei fechando as mãos. Acho que neste instante eu estava quase socando a cara dela.

– Claro que não... já disse que não quero que ela se sinta traída igual eu me senti... já pensei em tudo pra sua ida ser tranquila. Você vai falar que enquanto conversava comigo, ligaram de São Paulo por causa de uma emergência médica, você inventa uma... e você precisa ir e ficar um tempo lá pra resolver... e eu confirmo pra ela que você recebeu a ligação... eu só quero um tempo com a Lu, só nós duas... eu... preciso...

Me acalmei um pouco com esta frase... ela realmente não queria destruir meu casamento ou fazer a Lucy sofrer... mas... perder nossas férias para minha gatinha ficar nas mãos dessa putinha... eu não acreditava que isso estava acontecendo.

– E se eu não aceitar...

– Não estou te dando escolha "Doutora"... eu... preciso ficar com a Lu um tempo e essa é minha melhor chance... acredite, eu não gosto deste jogo baixo, mas estou... desesperada.

Que situação... então a decisão era minha... como sempre, a felicidade da gatinha estava nas minhas mãos... mas tudo estava tão estranho... o que essa menina estava fazendo... não fazia muito sentido...

– Shirley... me explica o que você quer ficando um tempo com ela... isso tudo está muito complicado para ser só sexo... por favor, eu juro que não entendi seu objetivo.

De alguma forma eu a toquei... aquela pose altiva e arrogante se desmontou bem na minha frente... ela começou a chorar... e preferi esperar ela responder... o que demorou alguns minutos.

– Cristina... eu... não aguento mais... eu... durmo pensando na Lu... acordo... fico o dia todo querendo chegar perto dela... ela me chuta, maltrata, não retribui... e eu... continuo abraçando ela... eu não aguento mais – disse ela em partes, quando conseguia parar de chorar por alguns instantes.

– Mas... o que isso vai mudar?

– Eu acho... que ela faz isso comigo porque você está perto... eu acho que ela gosta de mim, mas não demonstra por sua causa... se você estiver longe e ela me rejeitar... aí acho que vou me convencer que ela não me quer... eu preciso disso... para seguir a minha vida... eu estou presa nela... e não aguento mais... por favor... eu não quero prejudicar vocês... só quero... viver...

Então era isso... essa menina estava obcecada pela Lucy... e não conseguia aceitar a rejeição... e obviamente a minha presença era o item mais fácil de ser culpado... mas que droga... eu sabia que não ia mudar nada, que minha gatinha continuaria a rejeitando... mas... nossas férias... eu não podia aceitar isso... talvez... um meio termo...

– Um mês é muito... em uma semana você já vai saber como ela vai reagir... eu vou mas digo pra Lucy que não sei quando volto... e daqui a uma semana, se ela me pedir pra voltar, eu volto... mas se ela falar que está tudo bem, vocês continuam sozinhas. Vai depender do que a Lucy quiser.

Creio que ela não esperava uma negociação... notei que a putinha se espantou e ficou um tempo pensando. No fundo, tinha certeza que ela não mostraria o e-mail... mas talvez essa era a chance dessa sarna desgrudar da minha gatinha. E uma semana passava rápido.

– Ela vai ficar uns três dias um pouco triste... dez dias então... nenhum dia a menos... mas tenho certeza que a Lu não vai pedir pra você voltar... ela gosta de mim... e vai admitir isso quando estivermos sozinhas...

Bom, de um mês para dez dias... realmente não estava tão ruim assim... no fim, essa menina era só um incômodo... mas... neste período teria o show em Santa Catarina e no Rio de Janeiro... minha gatinha ficaria excitada... e essa maldita estaria sozinha com ela... eu estou entregando a Lucy nas mãos dela... será que minha gatinha resistiria? E se não resistisse? O quanto me incomodaria saber que elas transaram? O que isso mudaria no nosso casamento? Mas que escolha tinha? Se essa putinha quisesse, teria reescrito meu e-mail, encaminharia pra Lucy e destruiria tudo...

– Garota... eu... entendo você... e agradeço sua preocupação com a Lucy... até acredito que o que você sente é algo próximo ao amor... mas... você não vai conseguir... fique avisada que quando voltar, minha primeira atitude será fazer a Lucy te mandar embora.

– SE você voltar... SE a Lu não confessar que me ama também... quando estivermos nos amando, você será apenas uma lembrança distante... e eu vou apostar tudo nisso...

Essa doeu... saber que a Lucy estaria ao alcance dos braços dela pelos próximos dias... carente e sozinha... claro que espero que a gatinha resista... mas ela não resistiu no banheiro... e como seria agora? Melhor já começar a me preparar psicologicamente para aceitar isso... sim, não havia escolha.

– Tudo bem garota... sabe, quem ama de verdade, coloca o bem estar da parceira acima do próprio... e só por isso que vou aceitar... o bem estar da Lucy é mais importante que o meu... eu amo a Lucy acima de tudo e nunca a traí... mas por alguma maldição do destino, você, justo você... conseguiu esse e-mail para me chantagear... você ganhou esta batalha... mas a guerra vai acabar assim que eu retornar.

Após falar isso, abri a carteira, tirei uma nota de cinquenta e coloquei em cima da mesa para pagar a conta... e sem dizer mais nada levantei e voltei ao hotel para comunicar minha gatinha de minha ida... e tentaria marcar o vôo já pra amanhã, pois não quero ficar mais nenhum instante perto desta... putinha apaixonada... porque tinha certeza que iria destruí-la na volta.


Um pouco depois, no quarto do hotel...

– Doutoraaaaa!!! – gritou a gatinha, agarrando meu pescoço assim que entrei.

– Oi, meu amor – respondi de forma melancólica enquanto retribuía o abraço.

– Falou com ela? Estão mais amigas? Foi tudo bem? – perguntou ela, super animada.

– Foi... a... Shirley não era o que eu esperava... sim, ficamos um pouco... amigas – respondi, realmente triste.

– Que bom, mas por que está triste? Vem cá... deita no meu colo – disse ela, me puxando e se sentando na cama. Não resisti e deitei a cabeça no colo do meu amor e a senti alisando minha cabeça.

– Gatinha... quando estava tomando café com ela... a Clínica me ligou... um dos clientes mais importantes está no momento exato de fazer uma... cirurgia de reconstrução... eles querem que eu volte e faça a cirurgia... se você... não se importar... eu vou, fico uns dias em São Paulo e depois te encontro em outro ponto da turnê. O que você acha? – falei da forma mais convincente possível.

Lucy demorou pra responder... tadinha... mas preferi falar de uma vez... ah, que se dane... se ela chorar e pedir pra eu ficar, eu fico... e vou enfrentar as consequências junto com ela... basta ela pedir para eu ficar.

– Tudo bem, Doutora – foi a resposta.

– Tu-tudo bem gatinha? Tem certeza? – disse, sem acreditar no quanto foi fácil.

– Claro... não é trabalho? – perguntou, ainda alisando meu cabelo – Temos que ser profissionais, Cristy.

– Sim, mas... você vai ficar sozinha uns dias... nas nossas férias... isso não te deixa triste? – perguntei, quase implorando por um pedido para ficar.

– Não... tenho a Shirley pra me fazer companhia... se me sentir sozinha, peço pra ela dormir aqui comigo.

Essa frase foi como uma lança no meu coração... a putinha havia conseguido... e eu... eu... tinha que sair de perto dela o mais rápido possível.

– Tá bom... vou tomar um banho e depois preciso ligar para marcar minha passagem – disse, me levantando rápido e sem olhar pra ela. Em seguida entrei quase correndo no banheiro.

Lá dentro, abri o chuveiro... me encostei na parede... deslizei até o chão... e sentada ali, desabei a chorar... e o que estava me matando... foi pensar que a culpa de tudo... era daquele maldito e-mail.

– Lu... cy...

E nem imagino quanto tempo fiquei ali... chorando, chorando... e chorando...

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