sábado, 20 de fevereiro de 2021

Minha Linda Baterista - Capítulo V – Quem ama...

Capítulo V – Quem ama...



Finalmente! Finalmente! Finalmente! Finalmente a Lu é só minha... quando vi a vaca velha saindo do hotel há pouco, com mala e tudo, nem acreditei... agora tenho no mínimo dez dias e dois shows pra seduzir a Lu... e na hora certa, ela vai admitir que me ama também... não acredito... e vou começar agora mesmo... enquanto vou até o quarto dela, estou dançando no ar... imaginando tudo que faremos juntinhas... finalmente!

Pronto... em frente a porta... será que entro ou... não, melhor bater...

– Lu... posso entrar? – falei enquanto batia. Sem resposta... – Lu? Cê tá aí? – sem resposta. – LU!!!

Ela ainda não respondeu... será que tá dormindo? Deixa eu ver... Ué, a porta tá aberta? Melhor entrar...

– Lu? Lu? – fui falando enquanto entrava devagar... e não tinha resposta ainda – Cadê a chefe mais linda do mundo? E estou falando sério... – Ué? Cadê ela... só pode estar na cama...

– Aí está você! Por que não respondeu? – falei quando a vi deitada de ladinho na cama... que linda, com uma camisola cheia de patinhas de coelho... e uma calcinha rosa... como ela consegue ser tão linda?

– Hmmm? Desculpa, não ouvi – respondeu baixinho, sem nem se mexer.

– Posso deitar aí com você? Pra te fazer companhia? – perguntei com os olhos brilhando.

– Pode...

Não acredito!!! Ela deixou!!! Finalmente eu podia deitar na cama dela... vai ser a coisa mais fácil do mundo seduzi-la... só tenho que ir devagar... ela tá fragilizada... talvez hoje ainda... esse corpinho lindo e delicioso... vai ser todo meu...

Deitei atrás dela... nossa... to tremendo de ansiedade... cheguei mais perto e coloquei o braço esquerdo por baixo da cabeça e abraçei seu ombro... já com a mão direita, comecei a alisar suas costas, por dentro da camisola... que delícia... finalmente meu amor, não tem mais ninguém entre a gente... e você pode confessar o que sente por mim. Essa proximidade... o cheiro dela... se eu pudesse... calma... calma...

– Lu... eu... eu...

Não conseguia falar... melhor deixar minhas mãos falarem... massageando essa pele deliciosa... e ela não tá reclamando... nem tirando minhas mãos... isso é um sonho... parece um...

– Shirley...

– Quê? Ah, pode falar meu amor – respondi, tremendo mais ainda... o que ela ia falar? Será que já ia admitir que tá adorando meu toque? Ia falar que queria me beijar?

– Eu pensei muito... e queria te falar... que vou desistir da turnê... – foi o que ela balbuciou.

– O QUE DISSE??? – gritei no susto, soltando ela e sentando na cama.

– Eu... vou desistir... queria que você falasse com a Mari... diz que ela vai ser a guitarrista principal e vocês vão seguir sem mim... diz que eu tive um problema...

– LU! CÊ TÁ LOUCA?! – gritei, puxando seu ombro para olhar na cara dela. E as olheiras e os olhos inchados me assustaram – Lu? O que houve?

– Você sabe... a Doutora foi embora... e eu não vou conseguir... melhor desistir agora...

– LU! Ela não foi embora de vez, volta em alguns dias! Você não vive umas noites sem ela? E se um dia for fazer um show e ela não puder ir? Vocês tem um cordão umbilical por acaso? Deixa de ser... – parei pra não xingar meu amor.

– Pode falar Shirley... ridícula? Idiota? Boba? Sim, sou tudo isso e muitas outras coisas... por isso, estou desistindo.

– Mas... mas! Não faz sentido... esta turnê é o maior sonho da sua vida... você repetiu isso mil vezes – falei, começando a me desesperar.

– Shirley, você não sabe... esta primeira turnê era o sonho da minha vida, por que seria nas férias da Doutora... e passaríamos os três meses juntas... e ela me veria no palco... e brincariamos que nem namoradas após meus shows... e ela sentiria orgulho de mim pela primeira vez na vida... a gente planejou tanto... se fosse outro show, tudo bem... mas estes... era pra gente estar juntas o tempo todo... e ela teve que ir...

– Mas... ela vai voltar...

– Sim, mas ontem a noite ela se fechou no banheiro  pra fingir que ia tomar banho... mas saiu seca e com a mesma roupa... ficou uma meia hora chorando... eu não posso deixar ela sozinha nem por uma noite... eu achei que podia, mas não posso... vou embora mais tarde, hoje mesmo, pra encontrar ela... e vamos ficar juntinhas na nossa casa... e vocês continuam sem mim.

– Lu... eu... eu...

Eu... estava desnorteada, nem conseguia falar... não podia ser... o que eu havia feito? Meu Deus... eu estraguei o maior sonho da vida do meu amor... por ser egoísta... por querer ela só pra mim... o que eu devia fazer agora?
Aí de repente, um estalo... aquilo que a Doutora falou... quem ama... coloca o bem estar da outra pessoa acima do seu... o bem estar da Lu era mais importante... sim... só isso importava...

– LU! Ontem quando a Doutora falou que ia embora, o que você disse? – perguntei, rezando pra ainda dar tempo de limpar a imensa cagada que fiz.

– Que tudo bem... que devíamos ser profissionais...

– É isso! Ela me disse que... que... só iria se você não se importasse... se você ficasse triste, ela ia tentar arrumar outra pessoa pra fazer a coisa lá... você devia ter dito que não era pra ela ir!

– Então... a culpa é minha... – disse, recomeçando a chorar.

– NÃO! Você pensou que fazia o melhor... mas as vezes, só as vezes, podemos ser egoístas... liga pra ela... AGORA!

– Já tentei um monte de vezes e nem chama... deve ter descarregado...

– ENTÃO LEVANTA DAÍ! COLOCA UM SHORT E VAMOS! TEM TAXI NA FRENTE DO HOTEL!

– Pra onde?

– EU EXPLICO NO CAMINHO!!!! VEM!!!! AGORA!!!


Mais tarde, no Aeroporto Internacional Afonso Pena...

E aqui estou eu... sentada no saguão carregando o celular... morrendo de dor de cabeça e tentando segurar as lágrimas... daqui a pouco embarco e vou pra casa por dez dias no mínimo... ou mais, se a Lucy não estiver sentindo minha falta... e aquela putinha... deve estar deitada na cama da minha gatinha agora mesmo... alisando ela... beijando, talvez... e eu aqui...

Por que fui escrever aquele maldito e-mail? E como diabos foi parar nas mãos dela? Por que essas coisas só acontecem comigo? Preferia que a Lucy já tivesse trepado com essa putinha e aí acabava esse tesão entre elas... vadia... quando voltar, a primeira coisa de todas... vai ser mandar a Lucy te dar um pé na bunda...
Desgraçada... eu devia... ter quebrado a cara dela... se ela deixar minha gatinha triste... eu mato aquela puta... pro bem dela, é bom que fiquem apenas no sexo... se minha gatinha ficar sofrendo... eu mato ela... a Lucy é tão carente... e já sofreu tanto... eu... mato... aquela... puta...

– Voo JJ3145 com destino a São Paulo, primeira chamada, embarque imediato, portão dois.

Escutei perfeitamente bem a fatídica chamada para meu voo... sei que ainda falta um tempinho, mas fiz o check-in eletrônico e já peguei o cartão de embarque... é só entrar... aí espero no avião... bom, vamos lá... só tirar o celular e enfiar na bolsa... nem vou ligar essa droga...

Enquanto caminho pelo saguão, fico imaginando que devia estar aqui só amanhã, quando embarcaríamos para Florianópolis... amanhã a gatinha vai estar aqui com a putinha pendurada no braço... preciso parar de pensar nisso... chega de choro... vou ligar pra Lucy todo dia... não me comprometi a cortar o contado... e se a piranha não gostar, foda-se...

Passando pelo portão um... é o próximo então... logo ali... preciso ser otimista... a gatinha até pode trepar com ela, mas nosso amor é mais forte... é só uma provação, depois que nos reencontramos e essa vadia for chutada pros quintos dos infernos, tudo vai voltar ao normal... preciso ser otimista... aqui, portão dois... tem só umas quatro pessoas na frente... só esperar...

– Doutoraaaaaa!!! – ouvi bem longe alguns segundos depois.

Só faltava essa, agora estou delirando com a Lucy me chamando... deve ser porque dormi mal... bom, sou a próxima...

– Doutoraaaaa!!!! Espera!!! Cristina!!!! Espera!!!!

Delírio duplo? Posso jurar que ouvi a Lucy e a putinha me chamando... e para tirar a dúvida, olhei para trás.

– Doutoraaaa!!!!

Estou maluca ou é a Lucy vindo lá longe correndo na minha direção... balançando os braços... e a putinha atrás...

– Esperaaaa Doutora!!!

Não, são elas mesmo... e a Lucy continua gritando meu nome... e tá todo mundo olhando... e ela... tá vestindo a camisola com que dormiu essa noite??? Ela veio de camisola pro aeroporto??? Estou louca ou isso está acontecendo mesmo?

– Quem é aquela maluca? – perguntou a mulher logo atrás de mim.

Preferi não responder, pois fiquei morrendo de vergonha... mas sai da fila e andei em direção ao saguão, fazendo sinal para ela parar... eu tinha entendido e ia espera-la... mas não adiantou... ela continuou correndo e me chamando... até que quase chegando, eu que gritei:

– ESPERA LUCY!!!

Não adiantou... ela me alcançou, se jogou e me abraçou, o que me desequilibrou e derrubou nós duas... pronto, eu estava caída no chão do aeroporto, com ela em cima de mim, gritando e chorando...

– DESCULPA! EU MENTI! NÃO TÁ TUDO BEM! NÃO VAI EMBORA! SE VOCÊ NÃO ESTIVER COMIGO, NÃO QUERO FAZER A TURNÊ... DESCULPA! NÃO VAI EMBORA! EU TE AMO!

– Calma, Lucy, calma... por favor... se acalma – pedia, sem entender nada. Aí olhei pra putinha e ela estava chorando ao mesmo tempo em que... sorria? O que diabos aconteceu? Pra confundir mais ainda, a piranha se aproximou e falou:

– Eu disse pra ela que... você comentou que podia achar outra médica... que se ela quisesse, bastava pedir que você ficava.

– Você falou isso? – perguntei sem acreditar.

– FALOU SIM DOUTORA! E SEI QUE TO SENDO EGOÍSTA! MAS NÃO VAI EMBORA! POR FAVOR, FICA ATÉ O FINAL DA TURNÊ! TE AMO! – continuava gritando e me abraçando ainda no chão.

– Tá bom, Lucy... eu fico... vamos voltar pro hotel – respondi sem entender nada, mas era a única resposta possível... melhor deixar pra entender depois.

– TE AMO DOUTORA! – gritou, me dando um beijo apaixonado, que durou só uns dois segundos.

Assim que me beijou, dezenas de gritos, assobios e palmas explodiram no saguão. Paramos de nos beijar e quando olhei para os lados, estávamos cercadas... tinha pelo menos uma centena de pessoas nos olhando... e filmando com o celular... viramos atração turística.

– Doutora! Você tá parecendo um pimentão – comentou Lucy, enquanto se levantava.

– Por que será? – perguntei baixinho enquanto minha gatinha e a putinha me ajudavam a levantar.

'Isso aí doutora!!!', 'Tem que ficar com a Lucy mesmo!', 'Que casal fofo!', 'DOUTORA! DOUTORA! DOUTORA!', 'Que menina lindaaaaa!', 'Ela tá de camisola!!!', 'LUCY! LUCY! LUCY!' – foram alguns dos comentários e gritos que estava entendendo naquela balbúrdia, enquanto tentava sair de lá discretamente... alguns presentes vieram nos cumprimentar... outras choravam... outras pediam fotos... como sempre digo, essas coisas só acontecem comigo.

Demorou uns dez minutos pra toda aquela multidão dispersar, e só depois disso conseguimos ir embora... minha cabeça estava doendo e confusa... minhas costas e braços doíam pra cacete por causa da queda (mas preferi não dizer isso pra gatinha)... Lucy me abraçava como se tivesse me perdido e conquistado de novo... e a pu... Shirley estava quieta, mas não parava de enxugar lágrimas... e apesar de tudo, de uma forma bem estranha... ela parecia estar feliz (!!!!).

Um tempo depois, já no táxi a caminho do hotel, estava sentada no banco de trás e Lucy ia deitada no meu colo, de olhos fechados e pedindo carinho o tempo todo... Shirley ia na frente ainda calada... e a trouxa aqui não sabia se ainda a odiava ou se estava grata por ela ter devolvido minha gatinha... acho que a gratidão falou mais alto, pois cutuquei seu ombro...

– Shirley... obrigada...

– Não precisa agradecer Cristina, eu finalmente entendi o que você disse ontem – falou ela, se virando pra trás.

– Quem ama, coloca o bem estar da outra pessoa, acima do seu – disse, estendendo a mão em direção a cabeça da Lucy... e parando um segundo antes de tocar nela. – Não é verdade? – concluiu me olhando, enquanto enchia os olhos de lágrimas. Em seguida, se virou de novo.

– Sim, é verdade – respondi quase chorando (estava morrendo de dó dela), enquanto alisava a cabeça da Lucy, exatamente onde ela quase o fez... e eu não podia evitar de pensar no quanto era privilegiada por ter em minha vida uma pessoa como a Lucy, que me amava tanto.


....


Conclui a seguir... 

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