segunda-feira, 29 de março de 2021

Após o Horizonte Capítulo III - Solidão



Após o Horizonte
Capítulo III - Solidão

E lá estava eu, sentada ao lado de uma estranha, feliz por ter conseguido lhe chamar a atenção... na realidade, em meu íntimo, me perguntava o motivo de tudo isso, mas não encontrava uma resposta satisfatória.

- Então... imagino que você queira conversar... que tal começar me contando o motivo de você estar aqui hoje? - perguntou ela, me encarando com aqueles olhos acinzentados tão exóticos.

- Você diz aqui na praia? Eu estou de férias, vim de longe e estou descansando em um hotel perto daqui. Então me senti entediada e vim passear um pouco, e ao sair andando pela areia, acabei chegando neste banco onde você estava.

- Que interessante... realmente você me viu por uma simples janela de alguns segundos... como sempre, dezenas de eventos aleatórios culminam em um único instante crucial - comentou ela, mais parecendo que falava consigo mesma.

- Como assim? - perguntei sem realmente entender.

- Não, não é nada  importante... de qualquer forma, fiquei curiosa, pois acreditei que você iria embora agora a pouco... mas ainda está aqui.

- Eu... quase fui... mas quando você disse que meu comportamento normal era fugir, decidi ficar... por que disse isso?

- Ah, digamos que tenho uma incrível facilidade em ler as pessoas... leio suas reações corporais, tom da voz, olhar e outras coisas. E senti que você ficou mais confortável ao fugir do confronto, quero dizer, ir embora ao invés de conversar comigo. Talvez por medo de ouvir algo que não quisesse ouvir.

Essa garota... o jeito que ela fala não parece de alguém tão novinha... e estes comentários incisivos haviam me incomodado muito mais do que eu admitiria, até pra mim mesma.

- É... talvez... pode ser... eu... não costumo ficar muito tempo perto das pessoas... quem quer que seja, eu... me canso rápido.

- Cansa mesmo? Ou talvez seja por algum motivo mais obscuro?

- Eu... não sei - balbuciei um pouco sem graça.

- Me perdoe, eu deveria estar apenas lhe ouvindo, por isso não devo emitir opiniões. Por favor, fale um pouco mais - disse ela, novamente com esta droga de sorriso lindo.

- Não, tudo bem... pode opinar se quiser... afinal, uma conversa exige que os dois lados falem, não? - perguntei, disfarçando o nervosismo.

- Certamente, criança. Mas eu prefiro ouvir, e como foi você que me chamou mais cedo, e agora voltou até aqui, imagino que deve ter várias coisas a dizer. Fique a vontade e fale.

E de novo ela me chamou de... criança! Prefiro pensar que a palavra seria algo como "jovem", mas não achei prudente corrigi-la. Vai que ela se ofende e para de falar comigo.

- Bom, eu costumo ser bem independe e faço tudo sozinha, tanto que vim nesta viagem para descansar. Achar você foi um bônus... e fico feliz de conversarmos um pouco.

- Talvez toda essa independência e frieza só sirva como uma carapaça para esconder uma grande solidão que está dentro de você.

Esta frase foi como um murro no meu estômago, tanto que de repente senti uma angústia tão grande, que não consegui nem pensar em uma resposta. Ao menos, serviu para uma mudança radical de assunto.

- Brigit, espero que você não ache que eu desdenhei do seu nome mais cedo. Confesso que o achei diferente, mas é bem bonito.

- Claro que não. Agradeço. - respondeu ela secamente, se virando para frente de novo. Aparentemente, eu fugir do assunto da solidão, a fez perder o interesse em falar comigo. Mas que droga essa garota... ao mesmo tempo em que queria falar com ela, eu estava cada vez mais irritada.

- Pode perguntar o que quiser - falei, quase implorando por sua atenção.

- Não acredito nesta afirmação, pois você se esquiva de qualquer questão... então não tem porque perdermos mais tempo, concorda? - foi a resposta seca.

- Sim, me desculpe... eu... não costumo me abrir para ninguém... ainda mais com uma... uma...

- Uma desconhecida, que é bem estranha, não é? - disse ela se virando de novo pra mim, completando a frase com as exatas palavras que pararam na minha garganta segundos atrás.

- N-não, e-eu não quis... me desculpe - falei, gaguejando.

- Não se desculpe criança... não estou brava ou coisa parecida, mas se me conhecesse melhor, saberia que eu não minto. Só comentei de sua solidão, porque foi o que senti, mas não precisa falar sobre isso.

- Tá, tudo bem - foi a única coisa que consegui falar. E de novo o "criança" - Mas tem razão, as vezes me sinto sozinha.

- Sim, mas o mais irônico e curioso, é que você fica sozinha porque quer, não é verdade?

- S-sim... eu sempre dispenso as pessoas... na realidade... e-eu me afasto de quem gosta de mim - concordei gaguejando. E ao terminar a frase, não conseguia acreditar no que tinha acabado de falar.

- Sim, sua vida é um paradoxo deveras interessante...  pena que não teremos tempo para aprofundar nossa conversa, pois não ficarei aqui por muito mais tempo - disse ela se virando de novo.

- Como assim, você vai embora agora? - foi minha pergunta seguinte, que foi totalmente ignorada.

Essa moça, ela falava umas coisas muito estranhas... e ao mesmo tempo, conseguiu me arrancar uma confissão íntima que nunca imaginei que falaria. E agora me ignora... mas apesar de tudo, eu queria continuar falando com ela, então pensei que se retomasse o assunto original, eu conseguiria sua atenção de volta.

- Errrrr... Brigit... sobre isso de ver após o horizonte...

- Sim?

- O que significa?

- Que estou olhando para o que está após o horizonte visível... eu já lhe disse isso várias vezes, qual a dificuldade de entender?

Após bufar demoradamente, notei que essa conversa não estava chegando a lugar algum, mas tentei de novo:

- Que tal me dar um exemplo prático?

- Claro, siga-me - foi a resposta, quando ela se levantou e saiu andando na direção oposta de onde vim.

- Mas para onde? - questionei enquanto a seguia.

- Vê aquela elevação lá na frente? Vamos escalar e lá em cima, te mostrarei - respondeu, apontando um local bem mais adiante, onde algumas pedras formavam uma espécie de muro.

- Olha, eu tenho hora para ir embora, não vai demorar muito para chegar lá?

- Então, não venha - foi a resposta enquanto se afastava.

Sim, eu tenho algum problema... porque a segui sem pensar em mais nada... e demorou quase uma hora (sem ela ter dito nenhuma palavra) para chegar na ponta da praia, onde a areia acabava e havia alguns rochedos aparentemente bem íngremes.

- Basta me seguir - falou, começando a escalar.

Eu tentei (com muita dificuldade) imitar seus movimentos, mas essa garota parecia uma lagartixa... se esgueirando e deslizando pelas pedras. Em alguns minutos a coisa já tinha chegado no topo, enquanto a otária teimosa aqui, nem estava na metade. Mas continuei mesmo assim, e com muito esforço e bem cansada, finalmente estava quase lá. Então ouvi:

- Só falta uma, criança...

Nem consegui pensar sobre sua frase, pois ao me apoiar para subir na última pedra, escorreguei... e daí em diante foi tudo muito rápido.

Meu rosto foi jogado pra frente e dei uma pancada fortíssima com a boca, que considerando a dor insuportável e a quantidade de sangue que encheu minha boca, só podia ter quebrado vários dentes... nem tive tempo ou forças para gritar, pois me desequilibrei e rolei pelas pedras, arrebentando os braços, ombros e joelhos... era terrível não ter apoio e nem conseguir parar... e no fim, despenquei em outra pedra mais abaixo e finalmente na água.

Ainda estava consciente quando afundei, mas a dor lancinante que vinha de todos os lados me impedia de tentar flutuar ou mesmo de respirar... e a consciência começou a se esvair logo em seguida... estava tudo ficando escuro e distante... e nos últimos instantes, ainda pensei o quão triste era morrer desse jeito... longe de casa, longe do papai, da mamãe e do mano... triste e sozinha...

Então fui envolvida pela escuridão... pela silenciosa e mortal escuridão.

sexta-feira, 26 de março de 2021

Horrifikland... Mais um lançamento exclusivo da Gibiteca...

Prezados, 

Por questões de força maior, não consegui montar o post normal da semana, mas em compensação, temos um novo album exclusivo e inédito...



Graças a ajuda inestimável do amigo Paulo de Tarso, lançamos hoje mais um albúm Glénat... Não percam o incrível e assustador Horrifikland, com um estilo de desenho gótico com cores que lembram os sucessos de Tim Burtom... 


Mais uma edição especial só lançada na França e Alemanha, e agora em Portugues exclusivamente na Gibiteca...


Aproveitem...



segunda-feira, 22 de março de 2021

Após o Horizonte : Capítulo II - Brigit

Anteriormente...

As férias em Porto de Galinhas se tornaram o sonho e obsessão de Alice, uma auditora que sempre trabalhou demais e nunca teve tempo ou paciência para relacionamentos longos.
Mas já no terceiro dia ela se sentiu entediada em seu Resort e decidiu visitar uma das praias próximas... e foi enquanto caminhava pela areia, que ela avistou uma garota sozinha, sentada em um banco e aparentemente bem concentrada em alguma coisa.
E sem qualquer razão específica, Alice resolveu chamar a atenção e ser notada por esta menina...

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Após o Horizonte
Capítulo II - Brigit

Percebo agora que estas férias estão sendo tudo, menos normais. Após tanta expectativa e felicidade pela possibilidade de não fazer nada, me entediei em três dias, depois contei minha vida para um desconhecido (nunca havia feito isso), a pouco estava preocupada com o fato de estar sozinha, e agora... quero chamar a atenção de uma estranha que me irritou pelo simples motivo de ter me ignorado. Enfim, pelo menos terei muita coisa para me lembrar em casa após voltar.

Voltei para o banco por trás da fulana, e ao invés de me sentar na ponta, pulei repentinamente bem no meio, ficando com apenas o espaço de uma pessoa entre nós duas. E por mais incrível que possa parecer, a rapariga não se mexeu nem um milímetro, era como se euzinha não estivesse lá. Nesta hora realmente achei este comportamento um tanto estranho, mas ao mesmo tempo, estava resoluta em ser notada (nem imagino o porque).

- Boa tarde moça, tudo bem aí? - perguntei, enquanto jogava a perna esquerda para o outro lado do banco e agora, estava sentada virada de frente pra ela.

Nesta hora, eu me preocupei um pouco, pois a fulana continuava imóvel... mas era impossível ela não ter ouvido isso, a não ser é claro, que fosse surda. E lá fui eu insistir de novo, ao mesmo tempo em que cutuquei levemente seu braço:

- Moça, está tudo bem?

Quando a toquei, tomei um susto e tirei a mão rapidamente, pois senti algo estranho em sua pele, que além de estar muito quente, era tão macia, lisa e delicada quanto um pedaço de seda.

Mas creio que foi este toque e não minhas palavras que finalmente chamaram sua atenção. Aquela mulher virou a cabeça em minha direção tão lentamente que parecia um filme em slow-motion, até me encarar com olhos acinzentados, de um tom que eu nunca havia visto. E só isso. Não falou nada e nem me respondeu, apenas continuou me olhando com uma ponta de curiosidade.

- Desculpe incomodar, mas você estava tão quieta, que achei que poderia estar se sentindo mal ou coisa parecida - me justifiquei, tentando ser simpática. Fiquei na dúvida se o que disse havia sido entendido, pois não houve uma resposta imediata. Talvez fosse Sueca ou algo assim e seu idioma não chegava nem perto do Português. Mas após quase um minuto, bem tenso para mim que estava sendo encarada, vi seu sorriso se abrindo, enquanto respondia com uma voz melodiosa e um sotaque que não reconheci:

- Estou bem sim, obrigada por se preocupar.

Bom, o primeiro contato havia tido sucesso e apesar dela ser esquisita, dei continuidade, entendendo a mão para cumprimenta-la:

- Prazer, Alice. Creio que você não é daqui.

Ela olhou para minha mão de uma forma estranha, pois obviamente não entendeu o que deveria fazer, em seguida levantou os olhos de volta e respondeu:

- Brigit... tem razão, sou de muito longe

- Que nome curioso - comentei

- É um nome de origem Celta, não muito usual nos dias de hoje.

- Por favor, não me entenda mal, não achei feio, só diferente - tentei me desculpar. E ela nem respondeu, só sorriu e virou-se novamente pra frente.

- Então... Brigit... estou te incomodando? Se estiver, eu vou embora - falei para evitar qualquer mal entendido.

- Em absoluto, criança... fique a vontade - disse sem nem me olhar.

Criança? Ela me chamou de criança? Esta garota que era obviamente mais nova do que eu, me chamou de... criança? Quem sabe ela traduziu alguma palavra do idioma dela como criança... bom, não importa, eu estava feliz por ter chamado sua atenção (sem saber o motivo dessa felicidade).

- Errrr... Brigit... afinal, o que você está olhando que é tão interessante? Digo, tem mar para todo lado, mas nenhuma ilha, nuvem ou navio... e você parece tão concentrada - insisti, tentando quebrar o gelo.

- Sim, estava muito concentrada, por isso não te notei até agora a pouco... e o que estou vendo, é o que está após o horizonte.

- Mas o que tem após o horizonte? - insisti sem entender realmente.

- Você nunca viu um mapa? Nesta direção para onde estou olhando, está a costa do Reino Unido, a Escócia e a Irlanda - foi a resposta em um tom de obviedade.

- Claro que já vi um mapa... então... você está olhando... para o Reino Unido? - questionei de forma hesitante.

- Exatamente - respondeu secamente.

Bom, após esta afirmação, só existiam duas possibilidades... ou esta maluca estava viajando no ácido e tendo delírios... ou quis dizer que estava imaginando a região do Reino Unido, onde ela devia conhecer bem... qualquer que fosse a alternativa, era uma mulher realmente esquisita.

- Bom, acho que já te atrapalhei demais, vou voltar para meu hotel... melhor te deixar aí vendo isso que você disse. Boa tarde Brigit - falei me levantando, e já começando a me afastar. E a mal educada sequer respondeu.

Enquanto voltava caminhando pela areia, analisava o quão surreal havia sido este pequeno encontro com aquela garota linda e esquisita... mas o pior era não entender porque fiz questão de chamar a atenção dela e lhe falar. Bom, agora deixou de importar, pois estava voltando para a entrada da praia, iria almoçar, descansar e as 18:00 hs retornaria para o hotel.

E foi o que fiz, caminhei até o belo e chamativo restaurante, com suas cadeiras em área coberta, uma decoração típica de região praiana e um cheiro maravilhoso. Considerando que não estávamos em alta temporada, a praia estava tranquila e sem muita gente, e mesmo no restaurante não haviam mais que umas quatro mesas ocupadas.

- Bem vinda moça, sente-se que lhe levarei o cardápio - falou o garçom de forma animada.

- Obrigada - respondi, seguindo seu conselho. No final acabei pedindo a sugestão do rapaz do hotel, uma lagosta assada na telha, que por sinal estava deliciosa.

Estava tudo tão calmo após o almoço que até consegui tirar um rápido cochilo, sentada na cadeira... e após acordar, paguei a conta e saí para a praia de novo. Com curiosidade, olhei o relógio e ainda eram 14:45... pensei no que poderia fazer por mais três horas até o taxista voltar... e a resposta veio até que bem rápida.

Iria voltar para falar com aquela garota... nem vou pensar mais sobre porque estava fazendo isso, mas refiz ansiosamente o mesmo trajeto de quando cheguei... e após uns vinte minutos, vi o mesmo banco de concreto, com a mesma pessoa sentada lá... na mesma posição em que estava quando fui embora há algumas horas.

Se fosse pensar racionalmente, não fazia qualquer sentido aquela moça estar parada naquela posição há tanto tempo... e fazia menos sentido ainda eu estar voltando para falar com alguém que tinha me ignorado quase completamente... será que era isso que fazia as meninas ficarem atrás de mim? Como não dava atenção e ignorava, elas tentavam mudar isso chamando minha atenção? Se for isso, involuntariamente caí na minha própria armadilha... queria que aquela garota me notasse, e já tinha pensado na desculpa perfeita para a minha volta.

E foi quando estava quase chegando, que tive uma grata surpresa quando ouvi:

- Olá Alice, bem vinda de volta.

- Como sabia que eu estava chegando? E após nem olhar na minha cara direito, por que está falando como se tivesse certeza da minha volta? - questionei inconformada ao mesmo tempo em que me sentava.

- Eu sabia que você voltaria, apenas isso - foi a resposta, sorrindo e se virando para me olhar.

- Como sabia? Você se acha tão irresistível assim? - perguntei com ironia.

- Você que está dizendo, não? - foi a frase que me deixou bem irritada.

- Olha Brigit, eu só voltei para perguntar sobre... aquela história de olhar para o que está após o horizonte... só isso... mas se você entendeu algo além, creio que é melhor eu ir embora -  respondi, me levantando.

- A vontade Alice, imagino que seu comportamento natural seja fugir das coisas. Se prefere continuar agindo assim, a escolha é sua - disse ela se virando pra frente novamente.

Mas que cacete, essa garota estava me deixando realmente fula da vida... como alguém que mal conhecia podia me irritar tanto? Agora estava indecisa entre ir embora, dar um tabefe na cara dela ou ignorar esta última frase... que foi a opção escolhida.

- Tudo bem, eu fico... mas se não for muito incômodo, poderia me explicar melhor o que está fazendo? Achei seu comportamento bastante curioso - falei enquanto me sentava e contava até dez em pensamento.

- Claro, estou olhando para o que está após o horizonte.

- Você já disse isso. Não poderia explicar melhor? - insisti. Creio que a chata se rendeu a meu argumento, pois finalmente virou o corpo todo na minha direção para responder:

- Certamente... as pessoas só enxergam o que está na frente delas, apenas o óbvio, o simples e o racional. A visão de todos é limitada ao horizonte visível, igual quando você olha para o mar agora e não vê nada, mas existem muitas coisas além, coisas que ninguém nota ou percebe... e infelizmente para a grande maioria das pessoas, o horizonte é praticamente o limite auto imposto de sua própria consciência e percepção.

- Ah, e você é uma pessoa iluminada que vê além do óbvio, simples e racional... é isso? - perguntei mais irritada ainda.

- Novamente, é você que está dizendo.

- Sim, foi o que eu disse... mas... sei lá, nem sei porque vim pra cá.

- Talvez você queira ou precise conversar com alguém... se for este o caso, eu posso lhe ouvir - disse ela enquanto abria um sorriso radiante.

Droga, droga, droga! Esta garota, com apenas uma frase e um sorriso, quebrou minhas defesas... eu realmente fiquei feliz dela dizer que me ouviria. Mas, o que eu poderia falar?

- Talvez... mas eu não imagino o que poderiamos conversar... eu... nem sei por onde começar - respondi com toda a sinceridade.

- Se me permitir, eu começo - disse com outro sorriso.

- Sim, a vontade - respondi totalmente sem ação, com uma sensação muito boa, igual quando eu era criança eu recebia um presente muito desejado. O que estava acontecendo comigo?

Eu realmente não sabia o que fazia lá, nem porque tinha voltado, nem o motivo de querer lhe chamar a atenção... mas agora, falar com esta estranha garota era meu maior desejo. E aparentemente ela também estava levemente interessada em me conhecer melhor.


quarta-feira, 17 de março de 2021

Pateta (3ª série) completa

 Olá

Com os números postados hoje, todas as 87 edições da terceira série de Pateta na editora Abril estão integralmente disponibilizadas em A Gibiteca.

Boas gargalhadas.




segunda-feira, 15 de março de 2021

Nova História: Após o Horizonte - Prólogo e Cap. 01

Prezados,

Hoje começa a nossa mais nova história: "Após o horizonte"... 
Com um capítulo toda segunda-feira, em uns três meses, terminamos...

Mas dessa vez, uma história um tanto diferente... Afinal, nossa protagonista Alice é uma Auditora que sempre trabalhou demais, e finalmente decidiu tirar férias, longas férias em Porto de Galinhas... E foi durante essas tão desejadas férias que um encontro inesperado com uma estrangeira acontece... Um encontro que vai ensinar a Alice que existe muito mais do que apenas o que conseguimos ver... 

Tédio, drama, um relacionamento inusitado, confissões, auto conhecimento e uma boa pitada de sobrenatural... Espero que apreciem muito as conversas de Alice & Brigit, afinal, como diria nossa estranha amiga:

"...as pessoas só enxergam o que está na frente delas, apenas o óbvio, o simples e o racional. A visão de todos é limitada ao horizonte visível, igual quando você olha para o mar agora e não vê nada, mas existem muitas coisas além, coisas que ninguém nota ou percebe..."

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Após o Horizonte
Prólogo

As vezes sinto que o último mês da minha vida foi o melhor de todos, quase um sonho, pois finalmente iria tirar férias... esperei tanto, mas tanto por essa folga de trinta dias... meu trabalho como auditora é tão, tão extenuante, ainda mais por ser pessoa jurídica, adiei estas férias por cinco anos... entrei na empresa com vinte e seis, logo após terminar meu Mestrado em "Auditoria Financeira" na FGV e trabalhei, trabalhei e trabalhei... e quando finalmente convenci meu chefe de que precisava de férias, estes vinte dias em Porto de Galinhas viraram minha obsessão.

E a cada dia deste último mês, finalizei pendências, tive reuniões, entreguei relatórios, assinei dezenas de laudos e balanços... e deixei claro como água que não levaria o celular, não olharia emails, não ligaria nenhuma vez... férias absolutas, de uma forma que nunca tive.

Avisei mamãe e papai que não faria contato, coisa que eles não levaram muito na boa, mas respeitaram... avisei o síndico do meu prédio que o apartamento estaria fechado... não tenho nenhum bicho de estimação, mas deixei a samambaia com uma amiga... a última namorada terminou comigo há alguns meses (incrível como todas elas sempre querem mais atenção do que estou disposta a dar)... nenhum vínculo, pendência ou cobrança, apenas FÉRIAS!

E agora, neste exato instante... nem acredito que estou voando para Recife, de onde pegarei um ônibus para a vila de Porto de Galinhas... onde um Resort All Inclusive de frente para a praia me aguarda... onde não vou fazer nada exceto comer e dormir... mas é engraçado, não esqueço do comentário feito pelo rapaz que vendeu o pacote completo:

- Senhorita Alice, tenho certeza que você vai adorar a viagem - disse, sorrindo mais pelo valor da venda.

- Assim espero - respondi, guardando os papéis.

- Olha, pegue este guia sobre os melhores locais de balada, onde tem bastante gente solteira e bonita! - falou, me oferecendo um livrinho.

- Não, obrigada... se quisesse barulho, baladas ou paqueras, tiraria férias na Ibiza... quero sossego, não uma sarna para grudar no meu braço - respondi rindo, ao declinar o guiazinho.

- Entendi... bom, a última cliente que me falou algo parecido, voltou casada de lá - disse sorrindo.

- Bom pra ela! - foi minha resposta sem interesse.

- Meu pai sempre dizia que quando menos queremos ou esperamos uma coisa, aí sim é que a coisa acontece - completou ele, sorrindo de novo.

- Esperto seu pai, mas comigo não. Bom, muito obrigada por tudo - completei me levantando e saindo da loja em seguida.

Fico imaginando se o rapaz fez uma profecia, me jogou uma praga ou falou por falar... de qualquer forma desta vez ele está muito errado, pois não quero e não vou olhar, encontrar ou sair com ninguém, estas férias são meu momento sabático e vai saber se haverão outras... é meu momento, meu espaço e meu encontro de mim comigo mesma e não permitirei que ninguém interfira.

A única coisa que importa realmente é que voltarei outra pessoa... mais motivada, descansada e com ânimo para muitos outros anos de trabalho... se atingir este objetivo, já estarei plenamente satisfeita.

Porto de Galinhas, estou chegando... e que ninguém se atreva a entrar no meu caminho...

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Capítulo I
Tédio

Três dias... apenas três dias de férias e estou me sentindo entediada no Resort... devo ter algum problema, pois imaginei que iria ficar uns quinze dias apenas comendo e dormindo... afinal, meu chalé é espaçoso, tem ar condicionado, uma rede confortável e TV... na área comum quatro piscinas, quase um parque aquático, um restaurante e bar com comida e bebida o dia todo... é perfeito, é lindo, é maravilhoso... é... um tédio sem fim.

Não me conformo, parece que minha cabeça não desliga, como é possível? Fico pensando nos malditos relatórios, nas improdutivas reuniões e nos intermináveis balanços. Isso só pode ser mandinga do meu chefe, aquele miserável. Mas ele não vai ter o gosto de saber o quanto me lembrei do trabalho, vou dizer que me desliguei totalmente.

Creio que vou pedir algumas dicas na recepção... quem sabe uma leve mudança de ares não me faça bem? E foi com este pensamento otimista e carregando minha mochilinha com a carteira, protetor solar e uma toalha, que me dirigi ao rapaz atencioso e bem educado (pelo menos ele foi assim quando cheguei) que estava atrás daquele balcão, todo decorado com conchas, corais e estrelas do mar.

- Bom dia - disse com um sorriso.

- Bom dia, moça... em que posso ajudar? - foi a resposta com um sorriso maior ainda.

- Então, eu estou... entediada... já tomei meu café e não sei o que fazer... queria passear um pouco nos arredores, você tem alguma idéia de onde posso ir? - perguntei, confessando meu problema.

- Moça, existem dezenas de praias lindas, passeios de barco, jet sky, mergulho com snorkel, mergulho com cilindro, a vila de Porto de Galinhas... são tantas opções que fica difícil até saber por onde começar - respondeu com toda a sinceridade.

- Eu entendo... mas sei lá, diz qualquer um, qualquer lugar tranquilo onde posso ver algo legal ou apenas me desligar - insisti, esperando ouvir algo mais específico.

- Bom, se pode ser qualquer lugar, comece pela praia de Maracaípe, é tranquila, silenciosa e nos restaurantes, servem todo tipo de frutos do mar. Recomendo a lagosta na telha - disse, após pensar um pouco.

Otimista com aquela dica, agradeci com um sorriso:

- Pode ser, vou pegar um dos táxis que ficam aí na frente. Obrigada - agradeci e em seguida, caminhei alegremente até o ponto de táxi, com vários deles aguardando turistas como eu, que querem sair do paraíso (o Resort).

- Pode entrar moça - falou o motorista, já abrindo a porta, antes mesmo de eu chegar.

- Obrigada - foi minha resposta, enquanto me sentava no banco traseiro daquele carro, que nem fazia idéia qual era. Já o motorista era o típico morador de cidade com praia, de camiseta, tênis e a pele morena da exposição prolongada ao sol.

- Para onde? - perguntou ele, já ligando o carro.

- Praia de Maracaípe. É muito longe? - perguntei por simples curiosidade.

- Uma meia hora, deixa eu ver, agora são 10:35 hs, umas 11:00 hs a gente chega - foi a resposta, saindo com o carro.

Bom, não era tão longe... e no caminho podia olhar as pessoas e locais... pelo menos andar um pouco de carro era uma quebra na minha rotina (de férias). Rotina... falando assim, estou trabalhando ou com algum compromisso... qual o meu problema? Após tanta expectativa, estas férias não estavam sendo nada do que eu imaginava.

Um pouco melancólica, mantive meu silêncio durante o trajeto apesar do motorista tentar puxar assunto umas três vezes, recebendo apenas concordâncias vazias de minha parte. Na realidade, só respondi de verdade quando ele sem querer tocou em um nervo exposto:

- Como uma moça tão bonita vem pra cá sozinha?

- Bom, meus últimos namoros terminaram de forma um tanto... tumultuada... então não tinha ninguém para vir comigo - falei, sem nem saber o porquê.

- Entendi... você era muito ciumenta? - insistiu no assunto já que finalmente havia obtido uma resposta.

- Pelo contrário, todas queriam atenção todo dia, ligações, passeios todo sábado, jantares românticos... e meu trabalho me ocupava demais... e minha paciência terminava bem rápido - comentei, sem nem saber o motivo de estar abrindo minha vida para aquele desconhecido. Ele ficou quieto por uns minutos, talvez pensando no que dizer, afinal, a cliente não podia ser questionada.

- Bom, imagino que você ame seu trabalho, que ele é a coisa mais importante da sua vida e que está nos planos passar o resto da sua vida nele - disse finalmente para, sem querer, enfiar a faca no mesmo nervo exposto de agora a pouco.

- Claro que não, estava louca para sair de lá... eu não aguentava mais... mas estou sozinha e feliz aqui, não preciso de ninguém - respondi exaltada.

- Calma moça, então eu entendi errado... é que se o trabalho foi mais importante do que tantas pessoas em sua vida, achei que ele era seu maior objetivo... desculpe, não estava sendo irônico, eu realmente entendi isso - disse ele, se desculpando.

Neste momento fiquei muito constrangida... realmente me exaltei sem motivo por uma coisa boba.

- Desculpe, acho que estou estressada ainda... eu preciso me desligar desta droga de trabalho... desculpe mesmo - falei, tentando me acalmar.

- Tudo bem moça, a praia vai te fazer bem - respondeu ele, com um sorriso, para depois completar - Olha, vai ser meio difícil conseguir um táxi na praia muito tarde, não quer que eu vá te buscar umas 17:00 hs, 18:00 hs?

- Tá, pode ser... as 18:00 hs então - respondi, em um gesto para selar a paz. E depois disso, permanecemos em silêncio o resto do caminho.

Mas minha cabeça não parava de pensar sobre suas palavras... se abri mão de tantas pessoas, era pelo trabalho ser a coisa mais importante da minha vida? Eu realmente nunca tinha pensado por este lado... e um completo desconhecido havia jogado na minha cara uma verdade tão óbvia e cristalina, após ouvir apenas duas frases dap minha boca... que fiquei com raiva por nunca ter pensado ou percebido isso.

De qualquer forma, como estava vestindo um biquíni por baixo da blusa e short, e a praia estava próxima, logo, logo, meus problemas e conflitos iriam se dissolver na deliciosa água do mar, após um belo bronzeado em suas areias brancas e limpas... e quanto ao fato de estar sozinha... que se dane... podia estar sozinha, mas estava feliz também.

E quinze minutos depois, lá estávamos... praia de Maracaípe.

- Chegamos moça, até as 18:00 hs, então - disse ele com um sorriso.

- Até... e muito obrigada - respondi, descendo do carro. O táxi foi embora rapidamente e finalmente pude fitar aquele belo local.

Uma linda praia, com areia a se perder de vista para qualquer lado que se olhe... um mar calmo e um céu sem qualquer nuvem, completados por um horizonte infinito.

- Bom, vamos lá... sozinha e feliz... feliz e sozinha... - pensei com um grande e melancólico sorriso, enquanto tirava os sapatos, para dar meus primeiros passos naquela deliciosa areia quente. E foi andando, andando e andando, que eu finalmente me distraí... o cheiro da maresia, o sol escaldante, o vento fazendo meus cabelos voarem... finalmente eu estava esquecendo de todos os pensamentos ruins, exceto o pior de todos: “sozinha e feliz”.

Estava sozinha por opção... não dava atenção e nem bola para relacionamentos... uma noite, duas no máximo e a pessoa já me cansava pelo simples ato de mandar uma mensagem no celular... maldizia a carência delas quando questionavam o fato de não haver uma resposta ao previsível e maçante "bom dia". 

Meu trabalho sempre vinha em primeiro lugar, mas... não o adorava e imaginava que iria sair um dia... então o trabalho seria apenas uma desculpa plausível? Realmente não queria ficar com ninguém? Na realidade a pergunta mais relevante era: “Por que estou pensando nisso justo agora?

Que droga, havia desligado o assunto trabalho e ligado o assunto amor... mamãe vivia perguntando quando eu pararia de saltar de mão em mão... as vezes notava que ela sentia uma certa vergonha por ter uma filha que vivia tendo casinhos... várias vezes ela perguntava sobre uma pessoa apenas para ouvir como resposta que agora era outra... ainda bem que papai não se metia nisso e nem perguntava sobre netos... EU ter um filho? Mas nunca, de forma alguma, fora de cogitação... ele que convencesse meu irmão a lhe dar um neto.

De repente, notei que já estava bem longe do meu ponto original... enquanto estava imersa em pensamentos sobre solidão, família e relacionamentos, avancei um bom trecho da praia, em direção a uma parte mais afastada, sem restaurantes, cadeiras e muito menos, pessoas... exceto, pelo que estou vendo um pouco mais a frente, um simples banco de concreto, retangular e sem apoio para as costas... um banco comprido, mas que já tinha uma pessoa sentada... bom, imaginei que como estava ficando cansada, ali seria o local perfeito para descansar um pouco antes de voltar. E me encaminhei em sua direção, ainda tentando calar meus pensamentos.

Alguns minutos depois, me aproximei do banco e vi uma garota sentada na ponta oposta onde eu chegava. Considerando que caberiam umas quatro ou cinco pessoas entre as duas pontas, sentei sem me preocupar em incomoda-la, e realmente ela nem notou minha presença pois não se moveu um milímetro após minha chegada.

Sentei-me para descansar e sei lá por qual motivo, o fato daquela menina não reagir, não olhar pra mim, não se mexer e me ignorar por completo, incomodou-me um pouco. Ela estava imóvel, com a cabeça virada ligeiramente para a esquerda, como se admirasse algo incrivelmente fantástico ao invés de só ter o mar até onde a vista alcançava. Não sei se estava olhando para aquela garota esperando alguma reação ou simplesmente por não ter nada melhor para fazer, mas ao fazer isso pude notar alguns detalhes... curiosos.

A garota era obviamente jovem com talvez uns vinte e cinco, usava apenas um vestido verde claro de alça que ia até o joelho e estava descalça... até aí tudo bem, mas sua pele... era muito clara, não chegava a ser albina, mas era clara demais... o sol refletia de uma forma engraçada, com um brilho diferente... bom, talvez fosse um protetor solar bem forte que dava este efeito... e o longo cabelo era ruivo, mas de um vermelho que nunca vi, um vermelho tão vivo que parecia em chamas... eu nunca vi uma pele e um cabelo destas cores, seria ela uma Sueca? Holandesa? Finlandesa?

Apesar de meu olhar insistente, ela não me notou e isso estava me irritando mais a cada segundo. Será que a garota estava meditando de olhos fechados? Iria descobrir em seguida, pois me levantei, afastei-me um pouco do banco e passei na frente dela, olhando de canto.

Seus olhos estavam abertos, mas não houve qualquer reação, por menor que fosse, quando passei na sua frente... e agora meu incômodo havia atingido seu ápice. Ela estava bem? Estava drogada? Afinal, por que isso me incomodava?

Andei mais um minuto e ao me virar, ela estava no mesmo lugar, na mesma posição... quem era aquela mulher? O que ela estava admirando? Como podia não me notar?

E naquele momento algo tocou na minha cabeça, sem qualquer motivação real ou necessária... eu iria descobrir quem era aquela garota... e principalmente, faria ela me notar.

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quinta-feira, 11 de março de 2021

Prezados,

Mais alguns lançamentos de Mangás, He-Man, Heroinas e como destaque, a volta da coleção Canini´s Comics and Stories...

Canini´s Comics and Stories é a coleção virtual e definitiva com a obra completa do mais cultuado roteirista Brasileiro do Zé Carioca, que definiu a maioria dos personagens e instituições clássicas como o Afonsinho, o Pedrão, o Morcego Verde, a Agência Moleza e a Anacozeca.



E mais...
















quinta-feira, 4 de março de 2021

Semana do Pateta

 Essa semana é do Pateta.

São 16 edições que rendem muitos iac! iac!