domingo, 7 de fevereiro de 2021

Minha Linda Baterista - Capítulo III – Traição


Minha Linda Baterista - Capítulo III – Traição



No fim, com muita má vontade, levantei, coloquei a primeira roupa que minha mão alcançou e fui me arrastando até o café em frente ao hotel, do outro lado da rua. Era um local tranquilo com algumas mesinhas na calçada e outras lá dentro.  Acabei me sentando do lado de fora e pedindo um expresso duplo suave e um muffin de framboesa.

Ao olhar para o relógio no celular, vi que ainda faltavam dois minutos para as 17:00 hs, então só restava aguardar. De onde estava, podia ver perfeitamente a entrada do hotel, e exatamente as 17:00 em ponto, aquela menina saiu e atravessou a rua em minha direção.

Precisava engolir meu orgulho e admitir que a desgraçada era bonitinha. Branquinha, novinha, cabelos curtos e negros com um penteado moderno, pouca maquiagem e acessórios... ela sempre exibia um sorriso radiante e tinha os olhos castanhos com o brilho da juventude e dos objetivos ainda não alcançados.

Vendo assim de longe, ela  parecia e muito, uma versão mais jovem de quando conheci Lucy, mas sem o sofrimento e a carga de problemas pelos quais minha gatinha já havia passado. Isso, Shirley era a típica patricinha classe média–alta, cuja maior preocupação era evitar que uma espinha manchasse sua cútis alva e perfeita... perfeita realmente, pois mesmo sendo dermatologista, era difícil ver uma pele tão bem cuidada... enfim, aqui estamos.

– Boa tarde, tudo bem com a senhora? – disse enquanto se sentava sem qualquer cerimônia.

– Tudo... Shirley, mas pode me chamar de Cristina... e parabéns pela pontualidade Britânica – respondi com um sorriso, engolindo o nome pelo qual quase a chamei.

– Magina... Cristina –  respondeu com a mesma hesitação de um segundo antes do meu nome... obviamente ela também havia engolido a palavra pela qual queria me chamar... considerando que sou a pedra no caminho para o coração da Lucy, não posso esperar simpatia.

Preferi aguardar em silêncio ela pedir seu café gelado com chocolate, mas a garota aparentemente estava feliz e a vontade... creio que começamos bem, então decidi quebrar o gelo com um elogio:

– Parabéns pela apresentação de ontem... fazia tempo que não via vocês tocando com tanta empolgação.

– Brigada... a Lu estava feliz e eu muito mais... acho que quando colocamos o coração no que fazemos, sempre fica legal – foi a resposta com um sorriso.

– Verdade... olha, seu café está pronto.

Sem pensar ela se levantou e foi até o balcão pegar e com isso evitou a moça de trazer seu pedido.

– Tadinha, já anda tanto... assim eu ajudo – explicou, sentando–se de novo.

Concordei com a cabeça enquanto me admirava com este comportamento louvável e empático... é, essa menina tem alguns pontos positivos, mas não posso me esquecer quem ela é... e o que quer.

– Bom, aqui estamos... o que você quer conversar, Shirley?

– Muitas coisas... e a primeira é... você tem idéia do quanto a Lu é importante pra mim? – foi a resposta, me olhando fixamente.

– Imagino que você goste muito dela... e sente uma atração bem forte... considerando o quanto a alisa, beija e abraça – respondi friamente.

– Quase acertou... eu não gosto da Lu, eu AMO a Lu... ela é a pessoa mais importante da minha vida e por ela, faço qualquer coisa – retrucou em um tom melancólico.

– Ah, tá... mas... é meio estranho confessar isso para a esposa da pessoa que você ama, não é? – comentei um pouco sem graça.

– Sim, mas não me importo em demonstrar meu amor por ela na sua frente... eu nunca quis te provocar ou coisa assim, simplesmente não consigo evitar de beijar e abraçar a Lu... então só quero deixar claro que tudo que já fiz e farei, é pelo amor que sinto por ela... eu... só tive uma namorada até hoje, quando tinha dezessete e perdi a virgindade com ela com dezoito... eu... era totalmente apaixonada até descobrir que ela me traía com uma professora de inglês bem mais velha... então prometi que não ia mais namorar, só curtir... aí meu coração me aprontou essa, que foi me apaixonar pela Lu, que é casada... irônico né?

Essa menina estava falando sério e abrindo sua vida pra mim, mas sinceramente não imaginava onde ela queria chegar.

– Entendi que essa paixão aconteceu sem querer... mas onde quer chegar?

– Eu... eu preciso saber... se a Lu já te contou sobre o que fizemos... nossos momentos no estúdio... eu... sei que ela é sua esposa... mas... aconteceu... não precisa me xingar, já me sinto muito mal por isso... sinto muito de verdade – disse em um tom envergonhado.

– Bom, se você fala sobre uma vez, onde estavam bêbadas e se beijaram embaixo do chuveiro e que terminou com ela brigando porque você falou de mim, eu sei e já perdoei isso – afirmei, querendo encerrar este assunto, sabendo que Lucy não mentiria. Acho que ela não esperava que minha gatinha iria me contar, pois ficou em silêncio por algum tempo e notei seu rosto corado.

– Ela contou então... os cinco minutos mais felizes da minha vida... que depois virou meu pior pesadelo, porque imaginei que ela passaria a me odiar... mas mereci, pois tinha beijado uma mulher casada – disse ela, enxugando uma lágrima.

Eu realmente sou uma completa idiota, pois neste instante, consegui a proeza de ficar com dó da piranha que estava há meses tentando roubar minha esposa.

– Tudo bem garota, mas isso já passou... afinal, o que você quer?

– Só a Lu mesmo... um único beijo e ela te contou... como é boba e apaixonada... ela não merece isso que você faz – balbuciou.

– Não entendi...

– Eu disse que a Lu... só me deu um beijo e correu para te contar, aposto que chorando e implorando perdão... não acredito como ela é apaixonada por você! E você... você... que devia amar ela acima de tudo, a trai – disse, desta vez com muita raiva e os olhos marejados.

– O que você disse? Está me acusando de trair a Lucy? – perguntei assustada.

– Acusando? Não, estou afirmando... sua... vagabunda – foi a resposta com mais raiva ainda.

Fiquei tão assustada com esta frase que nem me importei muito com o "vagabunda"... de onde esta piranha estava tirando isso?

– Olha aqui, é melhor voltarmos para o hotel, antes que... que... você... alisa, beija e abraça MINHA esposa na MINHA frente e vem me acusar de traição? Você que é uma putinha sem vergonha – falei ainda assustada e me levantando, com a certeza que era melhor encerrar aquela conversa.

– Antes que o que? Vai enfiar baquetas no meu rabo, "Doutora"? – foi a resposta com desprezo. Demorei meio segundo para lembrar onde usei essa frase... e agora estava assustada pra valer.

– Onde... você viu isso – perguntei, voltando a me sentar.

– Se voltar para o hotel, só vai descobrir quando for tarde demais.

– Ainda estou aqui... responda!

– Sabe, eu admirava e invejava seu amor pela Lu... apesar de não resistir, depois me sentia mal por tocar e querer ela... me sentia péssima por amar alguém que já era tão amada e bem cuidada... mas agora... só sinto nojo de você, "Doutora"... como pode... trair alguém que te ama tanto? Como consegue dormir com suas amantes, sabendo que a Lu está em casa te esperando? Não se importa se ela chorar ou ficar triste? Que raio de amor é esse? –  foi o que ouvi, com uma mistura de tristeza e repulsa... e não estava entendendo nada.

– Shirley, eu não sei do que você está falando... eu nunca traí a Lucy.

– Claro que não... afinal, ficar com a amante após a festa de fim de ano e ir pro motel com ela não é traição... e pior, com uma mulher que a Lu odeia... foi trair ela logo com a tal da Pri.

Agora estava confirmado... não sei como, mas esta menina havia lido o e–mail e entendeu o que quis entender... a questão era muito delicada e fui pega totalmente de surpresa...

– Você está louca... de onde tirou isso? – perguntei nervosamente para ganhar tempo.

– Você sabe de onde... não se faça de sonsa – foi a resposta com mais raiva ainda.

– Mas... mas... mas... como?

– Ah, confessou... tá bom, vou te contar como as vezes o universo conspira para derrubar a máscara de vagabundas traidoras igual você – respondeu, voltando a beber seu café – Mas antes, vou pegar um Muffin igual esse aí... fiquei com vontade de comer algo doce... quer que eu traga mais alguma coisa, "Doutora"? – perguntou com cinismo, mas me recusei a responder.

Em seguida, ela levantou e foi até o balcão... e eu não sabia como, mas ela tinha lido o e–mail que mandei por engano pra Lucy... mas minha gatinha não leu... e agora, essa vadia estava convencida que traí a Lucy com a Pri... e obviamente usaria isso contra mim de alguma forma... merda... o que eu podia fazer? Só esperar pela próxima jogada dela, mas tinha que ter muito cuidado... merda, merda, merda... só me faltava essa.

Que ódio... eu tremendo de raiva e a putinha pegou o Muffin, voltou pra mesa, comeu com toda a tranquilidade, limpou os lábios e só depois se dignou a falar comigo:

– Vou te contar como descobri sua vagabunda... mas depois... vou fazer você se arrepender amargamente por ter traído a Lu.

Ouvir aquela piranha me chamar de vagabunda me deixou com mais ódio ainda... mas o pior era que ela parecia acreditar na traição... e se Lucy também acreditasse? Ela poderia cair em depressão, perder a turnê, talvez até... fazer alguma besteira... sim, o pior do pior, seria se minha gatinha acreditasse nisso... então, a única coisa que realmente importava... era convencer, comprar ou calar em definitivo essa desgraçada.

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